Empresas se antecipam à demanda e desenvolvem tecnologias voltadas para negócios de longo prazo, como a exploração do pré-sal, ou para análise e teste de novos produtos
A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias brasileiras no setor minerometalúrgico se consolidam como referência mundial. A siderúrgica V&M do Brasil (antiga Mannesmann, do grupo Vallourec & Mannesmann Tubes) inaugura até junho um centro de pesquisa no parque tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com foco em estudos sobre o ambiente para equipamentos da camada do pré-sal. A mineradora Vale está ampliando o seu Centro de Tecnologia de Ferrosos, instalado em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para desenvolver análises e testes avançados de carvão mineral extraído nas reservas da companhia na África.
A Rima Industrial, líder na produção de ligas à base de silício, também lança mão de tecnologia própria, para ampliar a produção nas unidades de Várzea da Palma e Capitão Enéas, no Norte de Minas Gerais. Os investimentos da empresa em tecnologia somam R$ 26 milhões, informa José Carlos Spínola, superintendente comercial da divisão de silício metálico.
“Cada vez mais estamos investindo dentro de uma visão de mercado de longo prazo. Os preços caíram na Europa e nos Estados Unidos por causa da crise, mas a demanda continua ativa e a economia norte-americana está se recuperando”, afirma o executivo. Mais de 90% da produção de ligas à base de silício da Rima Industrial têm o mercado internacional como destino. A maior parte atende as indústrias de silicone, servindo tanto à fabricação de silicones industriais quanto àqueles que vão gerar próteses médicas. Há também usos em expansão nas indústrias de cosméticos e de painéis solares para geração de energia. A Rima estima uma produção de 70 mil toneladas neste ano, quase 17% a mais na comparação com o ano passado.
Na área de fornecimento para a indústria de óleo e gás, a V&M e a Usiminas estão se antecipando a uma demanda que promete crescer com os aportes da Petrobras e de petrolíferas estrangeiras, parte delas conduzindo trabalhos de pesquisa também do gás natural na Bacia do São Francisco. A Usiminas inaugurou, em outubro do ano passado, na usina de Cubatão (SP), um dos mais modernos laminadores de tiras a quente, com capacidade para produzir 2,3 milhões de toneladas por ano de aços laminados a quente. O equipamento absorveu inovações tecnológicas que garantem homogeneidade de propriedades mecânicas e a uniformidade dimensional das bobinas laminadas.
O laminador produz aços da linha de dutos destinados ao transporte de óleo e gás e da linha de extração dos combustíveis. No fim de 2010, a Usiminas já havia incorporado a tecnologia CLC, licenciada da Nippon Steel, instalada no laminador de chapas grossas, permitindo a produção de chapas com alto desempenho em termos de resistência mecânica, tenacidade e soldabilidade. O vice-presidente comercial da companhia, Sérgio Leite, diz que os dois investimentos integram um pacote de recursos aplicados nos últimos cinco anos com o objetivo de enobrecer a produção. “Podemos dizer, hoje, que a companhia está pronta para suprir as necessidades de infraestrutura do Brasil”, afirma.
Os planos da V&M preveem o desenvolvimento de pesquisas e tecnologias, no novo centro em implantação no Rio de Janeiro, voltadas para os temas da resistência e colapso no ambiente do pré-sal, análise de corrosão, otimização do modelo energético e tecnologia ambiental. Batizado de Vallourec Research Rio de Janeiro (VRRJ), o empreendimento vai ocupar três pavimentos de um prédio com infraestrutura de laboratórios para atender pesquisadores, alunos e equipe de apoio. A siderúrgica mantém no Brasil 74 pesquisadores do grupo superior a 500 pessoas dedicadas à área de análises sobre pré-sal. O valor dos investimentos não foi divulgado.
A Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil (VSB) entrou numa segunda etapa de pesquisa e desenvolvimento de processos e produtos, depois da entrada em operação da usina integrada – abarca desde o minério de ferro ao tubo de aço pronto para uso – em Jeceaba, na Região Central de Minas. O gerente de desenvolvimento de produtos da siderúrgica, Vicente Trindade, observa que a empresa depende dos investimentos em inovação para acompanhar a demanda crescente de clientes no mundo por tubos com resistência à condições de trabalho severas em poços de petróleo e no transporte do combustível. A companhia foi a primeira siderúrgica da América Latina a instalar, na fábrica mineira, o processo de pelotização de minério de ferro, que possibilita a reutilização dos resíduos gerados no processo industrial.
ABORATÓRIO
Os aportes da Vale para ampliação do Centro de Tecnologia de Ferrosos de Nova Lima somam R$ 20 milhões, inicialmente, de um orçamento de US$ 1,1 bilhão reservado pela companhia para pequisa e desenvolvimento de tecnologia. Referência mundial da mineradora no segmento, as instalações mineiras já estão recebendo amostras de carvão da mina de Moatize, em Tete, Moçambique, para testes metalúrgicos e análises microscópicas, de acordo com o gerente-geral do centro, Rogério Silva Carneiro.
Os investimentos permitirão que todo o processo de transformação do carvão em coque metalúrgico, uso principal dos clientes da Vale nessa área, seja simulado na planta da Grande BH. A equipe de engenheiros e metalurgistas trabalha com minérios extraídos nas reservas da empresa no mundo e com aqueles tipos de material considerados exóticos, encontrados da Austrália à Índia. Com as análises, eles desenvolvem uma espécie de receita ideal para cada cliente no mundo.
Fonte: Estado de Minas