Processo Prospectivo

Processo Prospectivo e Construção de Cenários

Prof. Dr. Antônio Luís Aulicino, do NAP-PLP, da FEA-USP, e do IDS
outubro 2012

A elaboração do Processo Prospectivo proporciona às organizações planejar o longo prazo, formular estratégias, predisposição para fazer mudanças e rupturas para inovação da gestão, preparar as pessoas e adaptar os recursos para enfrentar possíveis adversidades e aproveitar melhor as possíveis oportunidades.
O processo prospectivo, segundo BERGER (1959), proporciona ver longe, com amplitude, com profundidade, com ousadia, tomar riscos e pensar no ser humano, e GODET (2001) complementa com ver de maneira diferente, caçar idéias, ver juntos, com apropriação, e utilizar técnicas e métodos rigorosos e participativos.
A figura 1 mostra a visão geral do processo prospectivo e a figura 2 mostra as etapas de execução do processo prospectivo. Estas figuras explicam o desenvolvimento do processo prospectivo, que se complementam para compreender o processo.

A figura 1 mostra a visão geral do processo prospectivo

Figura 1: Visão Geral do Processo Prospectivo
Fonte: BASSALER (2009), GODET (2001), De JOUVENEL (2008), MARTIN (2001), modificado e consolidado por AULICINO (2008)
  1. Presente: é constituída uma governança, que poderá ter até três Comitês: Comitê de Direção: composto pelos usurários principais e representantes de agentes sociais importantes da região, porém todos deverão ser tomadores de decisão, suas responsabilidades são: definição do problema, objetivo procurado, origem da demanda, destinatários dos resultados, e prazo de realização; Comitê Técnico Prospectivo: composto por especialistas em prospectiva, e representantes dos agentes sociais escolhidos pelo Comitê de Direção e pela sociedade, um ou mais dos participantes do Comitê de Direção deverão participar deste comitê, suas responsabilidades são: condução técnica do processo prospectivo, relatórios intermediários, relatório final, suporte bibliográfico e documentos técnicos, e preparação e animação das reuniões; e Comitê Local Técnico Prospectivo: se a região, foco do processo prospectivo, é longe do local onde se encontram os especialistas em prospectiva, deverá ser formado este comitê na região, cujos participantes deverão ser dessa região e deverão ser formados em prospectiva e suas responsabilidades são: elaborar as fichas das variáveis-chave, escolha de cenários da região, e elaborará os Planos de Ações. Caso não haja necessidade da formação do Comitê Local Técnico Prospectivo na região, as responsabilidades deste comitê passam para o Comitê Técnico Prospectivo. A Governança será responsável pela elaboração do diagnóstico, no presente envolvendo os diversos agentes sociais, que envolvem o tema e as nove dimensões: econômica, social, meio ambiente, cultural, demográfica, política, legal, tecnológica e segurança e defesa. Para efetuar o diagnóstico é necessário efetuar a retrospectiva, por meio de um questionário que levará em conta os últimos vinte anos, que formará um banco de dados, que explicará a situação presente a partir do passado, fornecendo as evoluções, as mudanças e rupturas que ocorreram. Para que isso ocorra a participação de diversos representantes de agentes sociais, haverá necessidade de realizar o processo de sensibilização e conscientização pelos Comitês Técnicos. Depois que houve a sensibilização e a conscientização dos diversos tipos de representantes de agentes sociais elabora-se um seminário que conterá diversas oficinas, tais como: caçar idéias, mudanças e rupturas, inércias e freios, árvores de competências do presente, passado e futuro, a análise dos atores (neste caso ator é diferente de agente social, porque ele possui estratégias e projetos que vão interferir de maneira forte sobre o tema ou temas que serão analisados pelos diversos tipos agentes sociais por meio de seus objetivos, estratégias e projetos), e depois, nesse mesmo seminário, serão identificadas as principais variáveis-chave, que serão analisadas e aprofundadas na Análise Estrutural, que contém a Análise de Impacto Cruzado, que serão identificadas as variáveis-chave motrizes que contribuirão para a construção da visão estratégica do futuro e como conseqüência a construção de cenários.
  2. Retrospectiva: é efetuada por meio de um questionário que verificará as mudanças ocorridas nos últimos vinte anos, as rupturas e tendências. Essas informações formarão um banco de dados, no caso do processo prospectivo a ser elaborado é de uma região ou um tema que implicará em regiões, então deverá ser levantada a situação geográfica e a elaborar o atlas da região.
  3. Passado: será conhecido por meio da retrospectiva e as razões que provocaram as situações presentes, no que concernem as mudanças, rupturas, as tendências, as inércias e freios que dificultaram as possíveis mudanças.
  4. Visão Estratégica do Futuro: depois de realizar o diagnóstico em conjunto com os diversos agentes sociais, constrói-se uma visão estratégica do futuro em conjunto para 20 a 30 anos ou menos ou mais, de acordo com o desejo dos participantes, com os possíveis cenários, verificando o que é realizável e o que é desejável. A partir das variáveis-chave identificadas no diagnóstico, na fase da análise estrutural na situação presente, identificando as variáveis do ambiente interno e externo, que delimita o chamado espaço morfológico. Inicia-se o aprofundamento e a utilização de especialistas, representantes de academia e de institutos de pesquisas, público e privada, tendo o acompanhamento dos representantes dos diversos tipos de agentes sociais. Após o aprofundamento que descreve as variáveis, considerando suas evoluções passadas e o que as provocaram, identificando as variáveis futuras provocadoras de tendência e de ruptura de maneira cientifica, realiza a análise do impacto cruzado entre as variáveis-chave para identificar as motrizes que serão as forças propulsoras de desenvolvimento do município, região, país ou tema. Depois dessa identificação, inicia-se o planejamento a longo prazo, analisando de maneira morfológica as variáveis-chave motrizes detectadas por meio do impacto cruzado. Dessa maneira, constroem-se cenários parciais e, depois, com eles se constroem cenários globais, confrontantes e contratantes, considerando cenários de ruptura, de tendência e a mistura dos dois, de ruptura e de tendência. A visão estratégica global do futuro é necessária para a antecipação de ações, no presente, para que essa visão seja alcançada por meio da mobilização da inteligência de todos os participantes. Cada participante deve poder compreender o sentido de suas ações, isto é, poder situá-las na visão global onde se inserem. A mobilização da inteligência será mais eficaz se há o envolvimento dos participantes no diagnóstico, que deve ser explícito, e conhecido por todos os envolvidos. Dessa forma, a motivação interna e a identificação das ameaças e oportunidades contidas na visão estratégica do futuro são objetivos que devem ser atingidos ao mesmo tempo, isto é, não podem ser atingidos de forma separadas.
  5. Futuros Possíveis: nas oficinas obteve-se a delimitação da escolha das diversas variáveis-chave, elaboram-se cenários, por meio da análise morfológica, identificam-se quais das variáveis-chave são as motoras para a elaboração de cenários com mais critérios, baseados nos aprofundamentos científicos elaborados, descobrindo os cenários desejáveis (V.1) e os realizáveis (V.2).
  6. Ações e Políticas Públicas: após o planejamento elaborado, passa para a parte legal que é a elaboração do contrato para execução do plano, que são as ações e/ou políticas públicas necessárias para sua execução. Nos países europeus é um contrato que é assinado pelos representantes da região, eleitos de maneira democrática, e pelos representantes do governo. Acompanha esse contrato o cronograma físico financeiro.
  7. Apropriação: deverá determinar o sucesso do processo prospectivo, por essa razão a seta na figura 1 é contínua, passando por todas as etapas. Em razão da transparência do processo, a mobilização não pode ater-se demasiada sobre as escolhas estratégicas, sobretudo quando estas têm um caráter confidencial e muitas vezes individual. Diante dessas condições, a reflexão prospectiva coletiva deve ser sobre as ameaças e oportunidades, essencialmente externas, que motiva a mobilização e permite a apropriação da estratégia.

A figura 2 mostra as etapas de execução do processo prospectivo considerando seis etapas, com base nos autores BERGER (1998), GIGET (1998), GODET (2001), JOUVENEL (2008), e AULICINO (2006), e na experiência prática de elaborar o processo prospectivo.

Figura 2: Esquema das Etapas de Execução do Processo Prospectivo Fonte: Aulicino e Petroni (2012)

A figura 2 demonstra que a prospectiva é a Antecipação para orientar a Ação com a Apropriação, conforme GODET (2001). Nesse conceito, a Antecipação é a soma das Perspectivas e das Possibilidades. Enquanto a Ação proporciona o Reposicionamento da Região, Município, Estado, País, Tema, ou da Organização. O processo prospectivo necessita de avaliação constante, desde o seu início, durante a elaboração e após seu término, no que se refere a curto, médio e longo prazo, com o intuito de verificar os impactos e resultados desse processo.

Segue a descrição das seis etapas de maneira resumida para executar o processo prospectivo:

A identificação das Perspectivas possui 3 etapas, sendo estas:

  1. Análise Conjuntural é um retrato dinâmico de uma realidade e não uma simples descrição de fatos ocorridos em um determinado local e período, conforme ALVES (2011);
  2. Análise Estrutural consiste em identificar as variáveis do ambiente externo, por sua ação direta e também por intermédio de combinações de influências indiretas sobre o ambiente próximo da Região, e identificar as inter-relações e a relevância dessas variáveis para explicar o sistema, conforme GODET (2001); e
  3. Árvores de Competência de Marc GIGET (1998) identificam as dinâmicas passadas, presentes e futuras da organização, ou da região, em suas habilidades, que começa pela vocação, competências e seus conhecimentos (as raízes), mas também em seus processos, sua execução e sua organização (o tronco), até as linhas de produtos e/ou serviços (os frutos), levando em conta as mudanças do ambiente e identificando as forças e fraquezas do presente em relação ao passado. Depois, imaginar um futuro desejável e realizável diante das ameaças e oportunidades do ambiente e construir uma árvore de competência do futuro, sabendo que o processo prospectivo permite isso ao considerar que o futuro possui incertezas e está aberto para muitos futuros possíveis.

    A identificação das Possibilidades possui uma etapa:
  4. Análise Morfológica é a combinação das diversas hipóteses identificadas no aprofundamento das variáveis-chave e dos atores-chave, conforme GODET (2001.

    O Reposicionamento possui uma etapa:
  5. Construção de Cenários ou Maquetes, nesta etapa, descrevem-se os cenários, tanto parciais quanto os globais, conforme JOUVENEL (2009).

    A última etapa é a:
  6. Avaliação do Processo Prospectivo por meio dos Resultados e Impactos verifica se houve resultados e impactos e se eles contribuíram ou não tanto para melhoria do processo prospectivo quanto para atingir os objetivos definidos, sendo efetuada durante todo o processo, e depois de seu término, conforme AULICINO (2006).

Referência Bibliográfica:

ALVES, José Eustáquio Diniz. Análise de Conjuntura: teoria e método. IBGE, 2011. Disponível em: http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/analiseconjuntura_teoriametodo_01jul08.pdf. Acesso em: 02/06/2011.

AULICINO, Antonio L. Estudo do Futuro:O que você deve pesquisar hoje? Ciclo de Palestras sobre Inovação e Empreendedorismo, Agência USP de Inovação- Universidade São Paulo. São Paulo, ago-2008.

____________________ Tese de Doutorado: Foresight para Políticas de CT&I com Desenvolvimento Sustentável: Estudo de Caso Brasil. São Paulo. FEA-USP, 2006.

BASSALER, Nathalie, “ La prospective dans le développement régional pour construire un avenir commun“, Présentation au petit déjeuner offert par la ADIAL BRASIL. São Paulo : nov 2009.

BERGER G., , «L’attitude prospective», L’Encyclopédie française, tome XX, Société nouvelle de L’Encyclopédie française 1958.

GIGET M. Arbres technologiques et arbres de compétences. Deux concepts à finalité distinte. Paris: Futuribles, nº 137, novembre 1989.

GODET, M. Manuel de prospective stratégique, tome 2: l’art et la méthode », Dunod, Paris, 2001.

JOUVENEL, F. (de), La Prospective des Territoires Urbains Sensibles: La Construction de Scenarios, et quelques autres Methodes. Paris: Futuribles, décembre 2009.

JOUVENEL Hugues de. La prospective territoriale pour quoi faire ? Comment faire? Futuribles International, Séminaire de formation. Paris : 14-15 octobre 2008.

MARTIN, Ben R. Technology Foresight in a Rapidly Globalizing Economy. Vienna. Proceeding of the Regional Conference, april 2001.