Pedras baianas geram empregos fora do estado

Notícias Gerais

dom, 02/03/2008 – 13:14

Azul Bahia, Bege Bahia, Café Bahia, Branco Bahia, Mogno Bahia e Vesúvio Bahia. Estes tipos de pedras ornamentais, de prestígio no mercado internacional, ajudam na manutenção de mais de cem mil empregos, mas não na Bahia, e sim no Espírito Santo. O estado vizinho é o principal destino do granito, mármore e outras rochas brutas extraídas no estado, principalmente no semi-árido, região marcada pela pobreza. Por aqui o setor emprega cerca de três mil pessoas, mas este número poderia ser muito maior se os empresários fossem incentivados a beneficiar a produção antes de vendê-la.

Em 2007, as exportações baianas do produto chegaram aos U$19 milhões, sendo 91,1% delas sem qualquer beneficiamento, de acordo com levantamento feito pela Associação Brasileira das Indústrias de Rochas Ornamentais (Abirocha). Cerca de US$1,1 bilhão foi o faturamento das exportações brasileiras do setor em 2007, e a Bahia foi responsável apenas por 1,7% do total, ficando atrás até mesmo do estado de São Paulo (2,4%), que possui um número bem menor de jazidas. Já o Espírito Santo, no ano passado, vendeu para o exterior UU$726,1 milhões, 66,4% das exportações nacionais. Muitas destas rochas saíram da lavras no próprio estado, mas boa parte dos blocos foi extraída por empresas capixabas instaladas em solo baiano. Os principais municípios produtores são Ourolândia, Caetité, Bom Jesus, Rui Barbosa, Jequié, Paramirim, Itaberada, Macaúbas e Medeiros Neto.

Para o empresário Carlos Araújo, proprietário da Decorally Pedras Naturais, na Estrada do Coco, o consumidor baiano também sai perdendo. Se o beneficiamento fosse feito aqui, o preço final seria menor. “Nosso maquinário é ultrapassado. Chegamos a levar cinco dias para cortar um bloco, enquanto no Espírito Santo eles gastam apenas três dias e com menor consumo de energia”, explica. Enquanto a Bahia tem aproximadamente 50 teares industriais, apenas em Cachoeiro do Itapemerin (ES) existem 900. “Assim não dá para concorrer”, afirmou.

Rocha bruta vale três vezes menos

No mercado, um bloco bruto vale no mínimo três vezes menos do que uma chapa cortada e cinco vezes menos que uma placa já polida. Do montante que sai das lavras baianas, apenas 8,9% sofre algum beneficiamento.

Um exemplo de como o estado perde na geração de empregos, negócios e impostos foi o contrato fechado para a construção do Aeroporto de Dubai, nos Emirados Árabes há dois anos. A Mineração Corcovado, do Espírito Santo, forneceu para os árabes quase nove mil metros quadrados do granito pannafragola, uma pedra de ótima qualidade. A pedreira de onde saiu todo o material exportado através do Porto de Vitória fica no sul da Bahia.

No mês passado, durante a Vitória Stone Fair realizada na capital do Espírito Santo, centenas de importadores de países como China, Itália, Estados Unidos e outros países ficaram encantados com o brilho e a beleza da pedra luise blue, também de origem baiana. A rocha, depois de beneficiada, custa US$420 o metro quadrado, mas apenas blocos brutos cruzam a fronteira entre os dois estados.

As razões para o sucesso dos capixabas são muitas e passam pela infra-estrutura de transporte baseada em ferrovias, a presença de um porto moderno, jazidas naturais e uma cultura da produção e tratamento de rochas desenvolvida ao longo de décadas. Mas, para os empresários baianos, tudo isto também poderia existir aqui, o que geraria muito mais postos de trabalho do que a mineração, transformando-se em saída para dinamizar a economia do semi-árido.

Produção chega a 600 mil toneladas

A produção total do estado gira em torno de 600 mil toneladas, sendo a maioria de granitos de alta dureza e cores variadas, muito procuradas pelos países desenvolvidos. “O mais grave nesta situação é ter pedras de grande valor econômico e não conseguir desenvolver uma maneira de estimular o desenvolvimento com a matéria-prima local”, desabafa Reinado Sampaio, vice-presidente Abirocha e presidente do Sindicato da Indústria de Mármores, Granitos e Similares do estado da Bahia (Simagran). Para ele, se o estado não tiver uma política de incentivo dificilmente mudará esta situação.

A opinião é a mesma de Antônio Carlos Machado Matias, chefe de gabinete da secretaria da Indústria, Comércio e Mineração do estado da Bahia (SICM). “Se não oferecermos atrativos será complicado convencer uma empresa a se instalar no nosso estado, pois ela encontra toda a logística e uma cadeia produtiva estruturada em outro local”, afirma.

Segundo o chefe de gabinete, a SCIM já iniciou os estudos para a criação de um pólo de beneficiamento que deverá ser instalado no município de Simões Filho, em uma área de um milhão de metros. Também sem data para ser colocada em prática, uma política de incentivos fiscais deverá ser negociada com a secretaria da Fazenda. “Tudo ainda está em fase embrionária, mas não podemos mais ficar vendo as nossas pedras gerarem riqueza longe das nossas cidades”, concluiu Matias.

Jony Torres

Fonte
Correio da Bahia

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