Micro e pequenas empresas apostam na Central de Massa

Notícias Gerais

ter, 29/01/2008 – 12:48

A Central vem sendo discutida há dez anos e deve reunir micro e pequenos empresários do setor de cerâmica vermelha para trabalharem em conjunto, com o objetivo de lavrar e beneficiar argila destinada à produção final de cerâmica.

A proposta é racionalizar as atividades de lavra, a homogeneização das misturas de argilas e, conseqüentemente, a melhoria dos produtos fabricados.

Segundo o diretor-secretário da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Valdir José Gnatta, o Ministério de Ciência e Tecnologia deve arcar com parte das despesas para a instalação da Central de Massas, mas haverá contrapartida das empresas envolvidas. A Central, projetada para a região Centro-Sul do Paraná, está orçada em R$ 5 milhões.

Necessidades – O Paraná tem hoje cerca de 600 micro e pequenas empresas produtoras de cerâmica vermelha, grande parte concentrada na Região Metropolitana de Curitiba e nos Campos Gerais, que geram 4.800 empregos diretos por mês, segundo o Sindicato das Indústrias de Olarias e Cerâmicas para a Construção do Paraná (Sindicer/PR).

Os empresários e especialistas do setor de cerâmica vermelha do Paraná são unânimes ao apontar as necessidades de investimentos em tecnologia e melhor qualificação de mão-de-obra para competir com produtos de qualidade no mercado.

Segundo o secretário executivo Sindicer/PR, Donizeti Motta, os sindicatos do setor têm feito investimentos “pesados” no treinamento dos empresários em prol da qualidade versus produtividade com sutentabilidade, fator que os “força” a buscar a qualidade da cerâmica vermelha.

Nas estatísticas do Sindicer, 40% das empresas buscam recursos através dos sindicatos para a sua adequação sustentável junto ao meio ambiente e formação de mão-de-obra, além da qualificação profissional dos administradores.

De acordo com Motta, o atual crescimento da construção civil favorece grandes demandas de produtos e isso faz com que as empresas invistam em melhores equipamentos. “O Sebrae vem fazendo também um brilhante trabalho junto às construtoras, buscando a redução de perdas e vai iniciar, em 2008, o mesmo trabalho com as lojas de materiais de construção”, explica Motta.

O empresário Renato Drisner, um dos proprietários da Cerâmica Drisner, aponta que a maior dificuldade hoje para melhorar a qualidade da cerâmica vermelha paranaense são “os recursos humanos”.

Segundo Drisner, o primeiro passo para melhorar a qualidade de seus produtos foi a qualificação de mão-de-obra e a inserção de processos de tecnologia avançada como a queima computadorizada, monitoramento de todos os processos relacionados à fabricação do produto, bem como do produto final, além da legalização de todas as lavras de argila no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).

A pequena empresa, instalada em Maripá, no Oeste do Paraná, a 600 Km de Curitiba, está em processo de certificação dos produtos de cerâmica vermelha, fato inédito no Estado do Paraná, e ganhou o Prêmio Sucesso Empresarial na categoria Indústria, em 2007, do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP/PR).

Fundada em 1960, tem atualmente 28 colaboradores, está há 47 anos no mercado e produz tijolos, blocos e lajes de construção para empresas construtoras, revendedores de material de construção e particulares.

“Este prêmio do IBQP/PR é o reconhecimento dos esforços que a empresa vem realizando desde 2005, em busca da certificação dos produtos de cerâmica vermelha. Através de seu sistema de gestão, busca de melhorias, menor retrabalho e menor perda do produto acabado, a empresa vem conquistando cada vez mais o seu reconhecimento no setor de cerâmica vermelha”, afirma Drisner.

O empresário do setor e também presidente do Sindicer/PR, Daniel Wosniak, aponta também as dificuldades para melhorar a qualidade da cerâmica vermelha paranaense. Segundo ele, a matéria-prima do Estado tem diversas origens disponíveis e há necessidade de controle mais rigoroso na preparação delas.

Ele cita ainda que a madeira, único combustível utilizado pela empresa, está muito cara e rara e, de acordo com o empresário, para se ter um produto de boa qualidade é preciso fazer uso de muita lenha e conseguir, de preferência, uma argila com pouca mistura (que não é seu caso, segundo Wosniak).

“Todos esses fatores torna o meu processo mais oneroso e concorro com muitos oleiros de fundo de barranco que não prezam o mínimo por qualidade, dificultando cada vez mais que a nossa empresa aperfeiçoe a qualidade dos produtos”, desabafa Wosniak.

A Indústria de Tijolos Beira-Rio, da qual ele é proprietário, em Curitiba, no bairro do Umbará, área onde se concentram 44 das empresas do setor de cerâmica vermelha do Paraná, está no mercado há 40 anos.

A Beira-Rio é uma empresa familiar e produz 80 produtos – de revestimento a blocos estruturais – além de desenvolver projetos especiais sob encomenda. Para melhorar a qualidade de seus produtos, a Beira Rio está investindo em equipamentos e na alteração do processo da cerâmica vermelha.

Mineropar – A Mineropar, após um período de diagnóstico na segunda metade da década de 90, passou a dar cursos e treinamentos e hoje atua no setor, por meio de consultoria ou de extensionismo mineral, aliando o conhecimento geológico ao conhecimento dos processos cerâmicos, além de ter um laboratório de caracterização de argilas, o Selab (Serviço de Laboratório).

Segundo o geólogo e coordenador dos trabalhos de consultoria e extensionismo mineral da Mineropar, Luciano Cordeiro de Loyola, em seus dez anos de atuação no setor, houve “uma crescente preocupação de um grupo de cerâmicas no Estado, não mais de 100, em melhorar sua maneira de lavrar, de beneficiar as argilas corretamente e de ter um processo fabril que leve a produção de produtos adequados ao mercado, sempre procurando atingir maior eficiência”.

Loyola avalia que, neste mesmo período, surgiram os agrupamentos de indústrias em prol de objetivos comuns e os sindicatos ficaram mais atuantes e profissionais, e entidades como o Senai e o Sebrae entraram de forma decisiva, junto com a Mineropar, para alavancar este setor industrial.

Os laboratórios de cerâmica vermelha também passaram a atender um número maior de empresários. “Agora temos laboratórios funcionando e sendo demandados por parte dos empresários e isto é progresso para o setor. Com este aumento de serviço, melhora-se a qualidade dos serviços”, diz Loyola.

Competitividade – De acordo com o geólogo da Mineropar, o Paraná defasou-se em muitos anos com relação a outros Estados em termos de competitividade no mercado e, paralelamente a essa defasagem, durante vários anos a Mineropar atuou quase de forma isolada como agente público de fomento ao setor de cerâmica vermelha.

“Porém, estes últimos anos, foram de uma aceleração no progresso do setor no Paraná, pelo menos para aquelas empresas que buscam a qualidade”, afirma, acrescentando que “espera que todas as sementes germinem em breve”.

Motta, do Sindicer/PR, defende que os produtos de cerâmica vermelha paranaense são competitivos e o Estado hoje tem a melhor produtividade do Brasil em termo de homem/hora, mas boa parte das empresas do Estado ainda trabalha de forma arcaica e com maquinários da década de 60.

Segundo Motta, as empresas do Estado de São Paulo estão bem à nossa frente, pois elas já passaram da transição da empresa familiar “confusa” (aquela que mistura o faturamento da empresa com o orçamento doméstico) para empresa familiar distinta, investiram em equipamentos produtivos, na formação de seus funcionários e em suas próprias, otimizaram suas fábricas, tornando-as produtivas e compactas e fizeram parcerias com instituições de ensino, analisaram mercados e produtos e a matéria-prima adequada.

Ele avalia que as empresas de Santa Catarina também se encontram nesse mesmo estágio e estão até mais bem preparadas institucionalmente do que as empresas de São Paulo. Para Motta, os produtos paranaenses serão mais competitivos nos próximos cinco anos, quando os oleiros de “fundo de barranco deixarem de existir” e a “população aprender a comprar e, em especial, as universidades deixarem de formar engenheiros civis e arquitetos compradores de preços”.

Fonte: Mineropar

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