Marcelo Soares Bezerra é Engenheiro de Minas – Cetem, esteve em Brasília para participar de um Seminário e a RedeAPLmineral aproveitou a oportunidade para saber um pouco mais sobre Resíduos e Sustentabilidade, acompanhe abaixo a entrevista.
RedeAPLmineral – Onde se podem ter mais informações sobre as atividades junto aos APLs de base mineral, resíduos e sustentabilidade?
Marcelo Soares Bezerra – O tema tem sido abordado por diversas instituições de ensino e pesquisa, quer seja sob o aspecto dos impactos ambientais gerados em toda a cadeia produtiva, como no enfoque de problemas específicos levantados por pesquisadores ou mesmo pela comunidade local. Pesquisa bibliográfica recentemente realizada aponta o envolvimento do CETEM – Centro de Tecnologia Mineral, do IPT – Instituto Tecnológico de São Paulo, UNESP, UFOP, UFRN, UFCG, UFRGS, UFC, MINEROPAR, SENAI/RS, entre outras instituições, estimuladas pelos recursos do sistema de inovação que estão sendo aplicados no desenvolvimento dos APLs. Em novembro de 2011, o MCTI/CETEM lançou a publicação Recursos Minerais & Sustentabilidade Territorial, contendo diversos estudos de caso em APLs de base mineral, subsidiando discussões a serem apresentadas na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a ser realizada no Rio de Janeiro.
RedeAPLmineral – O que motivou o desenvolvimento de pesquisas sobre utilização de resíduos, os problemas ambientais ou os aspectos econômicos?
Bezerra – Uma parcela significativa da produção mineral é obtida com a participação da pequena empresa de ampla distribuição no território nacional, constituindo muitas vezes a única alternativa econômica local. A busca da sustentabilidade requer que a interface entre a mineração e o desenvolvimento local, seja analisada e atendida em todas as dimensões da dinâmica setorial, razão porque, o aproveitamento de resíduos abrange tanto a dimensão ambiental como a econômica. Assim, a adoção de práticas de produção mais limpa reduz as perdas no processo produtivo e os impactos ambientais decorrentes, maximizando ganhos econômicos. Da mesma forma, a inovação tecnológica pode transformar um resíduo em coproduto, aumentando o resultado empresarial com os agradecimentos do meio ambiente.
RedeAPLmineral – Esse tipo de tecnologia é acessível à pequena e média empresa?
Bezerra – Estudos realizados sobre as aglomerações produtivas apoiadas pela RedeAPLmineral mostram que elas estão majoritariamente enquadradas nos níveis de médio-baixo a baixo conteúdo tecnológico, significando que os processos produtivos utilizados são de amplo domínio público. O passo adiante a um nível de produção mais racional é uma questão de orientação técnica e acesso a crédito adequado à capacidade financeira do pequeno minerador.
RedeAPLmineral – Os resíduos tratados são transformados em novos produtos, desses novos produtos surge uma cadeia produtiva? Essa cadeia inclui outros APLs?
Bezerra – Os resíduos dos APLs de base mineral são basicamente materiais compostos quimicamente por sílica, carbonatos e silicatos, de ampla aplicação industrial e agrícola, cabendo, portanto, a avaliação do seu desempenho funcional como insumo para as cadeias consumidoras destes compostos. A caracterização tecnológica dos resíduos e rejeitos nas diversas etapas da produção mineral indicará quais as cadeias onde eles poderão ser utilizados, desde que atendidos os requisitos da viabilidade econômica. Por exemplo, o resíduo de rocha britada para construção civil no APL sudoeste goiano, para uso como fertilizante agrícola, é induzido pela forte produção regional de grãos.
RedeAPLmineral – Quais são os principais desafios sobre o tema: Resíduos na Mineração?
Bezerra – Os desafios da pequena mineração no que se refere à inevitável geração de resíduo passa inicialmente pela formalização da atividade, pois o alto grau de informalidade inibe a responsabilidade em atividade clandestina. A geração de resíduos é agravada pelo desconhecimento dos parâmetros geomineiros das jazidas, pela adoção de métodos de lavra e beneficiamento inadequados, por processos obsoletos de transformação mineral e por negligencia na gestão ambiental. Há, portanto, necessidade de reduzir o desperdício na extração e transformação mineral, pela difusão de técnicas e de procedimentos já conhecidos e práticas de produção mais limpa, via um programa de extensionismo mineral dirigido para os APLs. Finalmente, a aproximação dos APLs com as universidades e instituições de pesquisa deve ser fortalecida, visando caracterização tecnológica dos resíduos e rejeitos, buscando inovações que os transformem em coprodutos da atividade.
RedeAPLmineral – Qual a sua opinião sobre a atuação da RedeAPLmineral quanto a sistematização e disseminação de informação?
Bezerra – A disseminação da informação é uma atividade imprescindível para o desenvolvimento das organizações e a instituição da rede foi uma feliz ideia cujo aperfeiçoamento demanda uma ponte com o pequeno produtor. Considerando o baixo nível de instrução e aspectos culturais que caracterizam ainda alguns aglomerados se faz necessária coordenação local para disseminar com os produtores as informações disponíveis na rede. Aí volta à baila a sugestão dos extensionistas em APLs.
Por Muryel e Letícia Soares
Equipe de Comunicação RedeAPLmineral