Entrevista: Fernando Souto

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Mestre pelo Massachusets Institute of Technology (MIT) e doutor pela universidade de Rice – Houston, ambos nos EUA, Fernando Souto tem uma história de vida dedicada à ciência, inovação, tecnologia. Ele conversa com a RedeAPLmineral sobre a importância da normatização, certificação na indústria nacional.  

RedeAPLmineral: Conte-nos um pouco de sua experiência acadêmica?

Fernando Souto: Desde muito jovem eu sempre gostei de mexer em coisas elétricas: rádios portáteis, pequenos equipamentos. Fui interno do Colégio Militar e na época resolvi fazer um curso à distância de engenharia elétrica. Foi aí que começou tudo. Dali me formei na PUC-RJ e também ministrei aula no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), antes de  fazer mestrado pelo MIT e, posteriormente, doutorado pela universidade de Rice, tudo na área da enfenharia elétrica. 

RedeAPLmineral: E no retorno ao Brasil?

Fernando Souto: Quando eu voltei dos EUA, trabalhei com diversas instituições de pesquisa e fomento como CNPq, UnB; fui fundador e presidente do Inmetro. Nesse período nosso trabalho foi de implementar bolsas de estudo para mestres e doutores, mas, especialmente, na busca da união entre o setor privado e a academia. Víamos esses modelos em outros países do mundo. 

RedeAPLmineral: Você pode dar um exemplo de modificação realizada?

Fernando Souto: Por exemplo, eu queria fazer o que já era feito no ITA: todo professor tinha que ter um trabalho teórico e um prático voltado ao desenvolvimento de produtos. Foi assim que nasceu a primeiro rádio FM feito no país, que foi feito em parceria com o ITA. 

RedeAPLmineral: Conte-nos um pouco do trabalho do Inmetro?

Fernando Souto: O Inmetro foi criado com a seguinte premissa: criar um arcabouço Legal, Cientifico e Industrial para a produção brasileira. A Metrologia Científica e Industrial é uma ferramenta fundamental no crescimento e inovação tecnológica. Ela ajuda a promover a competitividade, criando um ambiente favorável ao desenvolvimento científico e industrial no país. Através da metrologia, que é a ciência que abrange todos os aspectos teóricos e práticos relativos às medições, qualquer que seja a incerteza em qualquer campo da ciência ou tecnologia. 
 
RedeAPLmineral: Qual a importância de se ter medições dos produtos?

Fernando Souto: A aferição ajuda a promover a competitividade saudável e ajuda a proteger o consumidor. Auxilia na sua escolha, garantindo que o produto adquirido tem a qualidade indicada na sua embalagem. 

RedeAPLmineral: E qual a importância da normalização?

Fernando Souto: Na normalização existe um conjunto de documentos que dizem mais ou menos o seguinte: eu (produtor) tenho que fazer esses produtos de acordo com as normas que dizem como elas devem ser feitas. Basicamente é esse o ponto primordial. Atenção para o fato de que isso é diferente de dizer: eu (produtor) estou fazendo um produto melhor que o do meu concorrente. A normalização estabelece as regras mínimas de especificações para todo mundo que fabrica determinado produto. O importante é que essas especificações sejam a média daqueles praticados no mercado. Isso é importante para não criar distorções como uma ‘super’ norma que exclui a maior parte dos produtores, especialmente os pequenos, do setor. Mas não é desejável, também, criar uma sub-norma que não normatiza coisa alguma e permite que o produto seja feito de qualquer maneira. É importante, lembrar também da necessidade de se definir muito bem os ensaios necessários para essas especificações e as respostas desejadas.

RedeAPLmineral: Como isso funciona na prática?

Fernando Souto: Posso dar um exemplo simples para entendermos melhor. No mercado existem diversos fabricantes de DVD. O padrão DVD está estabelecido: tantas linhas horizontais por tantas verticais etc… então não tem como um fabricante alegar que o DVD dele tem mais linhas assim ou assado. Isto é padrão da indústria. Ele pode alegar que o produto dele uso um sistema ‘X’ que traz uma qualidade melhor etc. Mas são questões ‘extra’ especificações. As especificações para aquele produto foram definidas e acordadas na hora da normalização. Esse tipo de atuação profissionaliza e generaliza a competitividade em determinado mercado. Isso garante qualidade e seriedade da produção bem como trás um resguardo para os consumidores.  

RedeAPLmineral: E quanto ao setor mineral?

Fernando Souto: Na área mineral podemos dar o exemplo de gemas. No Brasil as pedras mais vendidas são: a ágata, citrino, ametista e o cristal. Agora como você classifica a cor de um ametista? Você não consegue por quê não tem norma para isso. Você sabe que a pedra é ametista pelos dados físicos: densidade, propriedade ótica, etc. Mas e o valor ? No Rio Grande do Sul você encontra cinco grandes exportadoras de pedra bruta. Cada uma tem a sua classificação. E eles sobrevivem pela conquista do mercado. Então o comprador chega no balcão e pede um ametista de cor ‘Y’. Na outra empresa essa cor é totalmente diferente. Se tivesse uma norma geral facilitaria o trabalho para todo mundo. 

RedeAPLmineral: Existe um exemplo desse processo em APLs?

Fernando Souto: Um exemplo interessante acontece no APL Cerâmica Vermelha do Norte Goiano. Os produtores estão se esforçando para receber a certificação de seus produtos. Isso vai ajudar na abertura de novos mercados. A certificação funciona como uma espécie de passaporte para novos mercados.

por Claudio Almeida,

jornalista da RedeAPLmineral

Fonte: RedeAPLmineral

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