Uma revolução tecnológica e um conceito cada vez mais efervescente, em qualquer setor da sociedade. Assim é a Internet das Coisas (IoT, do inglês Internet of Things), termo criado pelo especialista britânico Kevin Ashton, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em 1999. Ashton criou a expressão para descrever um sistema conectado entre itens do mundo físico e Internet, por meio de sensores onipresentes. “É uma conexão inteligente entre coisas, sejam elas máquinas, processos, plantações, animais, estado da natureza. É como se pudessem falar entre si e tomar decisões. Tornar as coisas conectadas não as torna inteligentes, é necessário fazê-las interagir. E é nessa interação que a Internet das Coisas faz a diferença e se torna relevante para as cidades, os negócios e as pessoas”, acrescenta Mirella Damaso Vieira, IoT Business Development manager da 2S Inovações Tecnológicas.
E essa já é uma realidade em diversos segmentos, que acontece de forma espontânea e natural. Além do Google Glass, há fechaduras de portas integradas a smartphones, programas que prestam assistência em tempo real a elevadores e softwares de comunicação entre aparelhos domésticos. É um mundo cada vez mais parecido com aquele desenvolvido em filmes e jogos de video-game, como Blade Runner e Watch Dogs.
“Um de nossos estudos aponta que as empresas latinoamericanas investiram US$ 54,7 milhões em IoT em 2015, o que representa 0,23% do total de suas receitas investidas nesta tecnologia. Em 2018, espera-se que os orçamentos sejam maiores, com empresas da América Latina gastando 22% a mais”, afirma Henry Manzano, CEO para a América Latina da Tata Consultancy Services (TCS). E a mineração não é uma exceção a esse novo mundo. De acordo com a PricewaterhouseCoopers (PwC), o segmento mineral é o que mais investe na Internet das Coisas, com 33% das empresas colocando parte de seu budget nessas inovações tecnológicas. Em seguida, vêm 32% de empresas da área de Utilities e 31% da área Automotiva. A expectativa é de que em 2020 o mercado movimente globalmente US$ 8 trilhões.
O interesse das mineradoras na IoT é crescente, visando as mais diversas atividades, como a integração de todas as operações, redução de custos, segurança dos funcionários, o gerenciamento ambiental, monitoramento das frotas de veículos e equipamentos, menores tempos de parada e um consequente aumento da produtividade. “A contribuição se dá na melhoria do sistema de gestão de manutenção e performance operacional, tanto para o processo quanto para supply chain. Algumas companhias reportaram ganhos de mais de US$ 100 milhões em custo de manutenção ao ano, ao longo dos próximos três anos, através da utilização de análises preditivas e soluções avançadas para manutenção”, relata Ali Mohamed Saleh, Global Strategic Account Executive da Schneider Electric.
Ainda assim, há um pequeno obstáculo a ser vencido, um pequeno grau de resistência. “O setor mineral é tradicionalista e a aplicação nas operações diárias de uma mineradora ainda não é amplamente difundida. No entanto, as empresas do setor vêm cada vez mais voltando suas atenções a soluções relacionadas à IoT, visto que, em virtude da queda constante nos preços dos minérios, o aumento da produtividade é uma das principais preocupações, além da busca por inovações representar um caminho promissor”, revela Alberto Abdu, gerente de desenvolvimento de negócios para o setor de mineração da Bosch Brasil.
Projetos em desenvolvimento
De olho num mercado com grande potencial, diversas empresas têm desenvolvido tecnologias voltadas à IoT na mineração. Uma delas é a própria Bosch. Algumas minas no Brasil já contam com sistemas Bosch de monitoramento de motores e cilindros hidráulicos para acionamento de equipamentos e máquinas. A empresa desenvolve atualmente os Alimentadores Inteligentes, solução que integra válvulas guilhotinas, localizadas nos silos de minérios, ao motor hidráulico Hägglunds, para acionamento das correias transportadoras abaixo dos silos e do tensionador hidráulico da correia. “A conectividade remota acontece por meio de um sistema que coleta dados dos equipamentos por meio de sensores e transmite a uma plataforma que apresenta as informações interpretadas ao usuário. O sistema permite o ajuste automático da tensão da correia quando necessário e o fechamento rápido da válvula em caso de parada por manutenção, bloqueio ou algum problema no processo, além de mais robustez oferecida com a utilização de um motor hidráulico Hägglunds”, conta Abdu.
Outra é a Modular Mining Systems, que tem como tecnologias já conhecidas o pioneiro computador de bordo com processamento automático de informações, que não requer interferência do operador, e a comunicação de dados wireless dentro da mina, tecnologia que vem evoluindo ao longo do tempo, desde sistemas UHF/VHF até redes atuais, providas por parceiros da Modular especializados, que proporcionam banda larga com alto desempenho e estabilidade mesmo num ambiente adverso de mina. “Nossa mais recente solução tecnológica é destinada à prevenção de colisões (CAS Collision Avoidance System). Ela monitora e notifica os operadores sobre os riscos potenciais de colisões com base em algoritmos inteligentes de predição de rotas. Com uma abordagem de sensoriamento redundante em multicamadas, usando receptores de GPS e outros sensores, o sistema determina o risco de colisão com base em parâmetros como velocidade, direção instantânea, rota prevista e outros fatores”, diz Davi Freire, gerente geral da Modular Mining Systems do Brasil.
A Schneider Electric anunciou em outubro uma colaboração com o HKUST-MIT Research Alliance Consortium. A empresa se juntou a outras companhias, como Intel e Texas Instruments, e se tornou também uma das patrocinadoras de uma pesquisa com foco em soluções criativas para resolver gargalos em gestão e transporte. Mas a tecnologia não é novidade para a Schneider. “A IoT é um tema presente há muitos anos, quando desenvolvemos a Ethernet, para o chão de fábrica. Atualmente, nossos destaques são iniciativas e projetos focados em analytics para processo e manutenção, otimização de supply chain e gerenciamento de sistema de tratamento de água”, comenta Saleh. Ele acredita que no cenário atual, as atenções estão direcionadas à compreensão de quão granular, wireless, diversificado e integrado o mundo pode se tornar.
undialmente, a ABB possui diversos projetos que utilizam o conceito IoT. “No momento, está sendo implementado um projeto para uma mineradora de ferro, que emprega o conceito com diferentes finalidades. Nota-se isso com a criação de uma sala de controle central, capaz de gerenciar variados ativos da planta, até a disponibilização destes dados a uma rede corporativa ou à Internet, que permitirá total mobilidade e flexibilidade ao acesso às informações”, afirma Juliana Favaro, engenheira de Aplicação da ABB. Recentemente, a ABB divulgou uma tecnologia desenvolvida para ajudar engenheiros em problemas elétricos nas minas, resolvidos da sala de controle. A biblioteca exibe um controle e monitoramento de subestação de forma aprimorada, que permite ao time da planta uma análise em tempo real, incluindo status gráficos, intertravamentos, medições, entre outros. A biblioteca é integrada à plataforma de controle ABB, que monitora e controla vários processos industriais.
A Tata Consultancy Services (TCS) implementou suas soluções em grandes mineradoras brasileiras. “Oferecemos consultoria, soluções e serviços de TI, engenharia, serviços de infraestrutura, serviço de gestão de ativos e BPO (Business Process Outsourcing). Atendemos as áreas de exploração, operações de mina, logística, produção de metal, vendas e distribuição.
As unidades Engineering and Industrial Services e Digital Enterprise Solution desenvolvem ofertas relevantes aos clientes de mineração e manufatura, com o objetivo de alcançar otimização, integração, e endereçar prioridades relacionadas a saúde e segurança. Colocamos ao alcance dos nossos clientes todas as novidades tecnológicas que, além de evitarem acidentes e prejuízos, ainda aumentam a segurança, eficiência e consequentemente o faturamento das companhias”, conta Manzano.
“Temos vários projetos pilotos que, indiretamente, atenderão alguma mineradora, pois estão nas áreas de transporte e logística. Com soluções de IoT aplicadas ao transporte, mineradoras obtém a melhor produtividade da sua cadeia de extração, com redução de custos de caminhões em manutenção e acidentes, e por meio da otimização de processos, reduzindo filas de carregamento e controlando o tempo médio das atividades. A solução de transporte tem todos os veículos conectados, rastreados e monitorados em tempo real a partir de uma central de controle, que conta com dashboard único com mapa da mina, localização e status de cada caminhão, bem como o tempo de cada atividade”, detalha Mirella Vieira, da 2S Inovações Tecnológicas. Dessa forma, a empresa possibilita uma tomada de decisão instantânea.
Fonte: In The Mine