Enquanto na maioria dos municípios brasileiros muitos “pepinos” e “abacaxis” estarão à espera dos prefeitos eleitos a partir do ano que vem, em 12 cidades mineiras o cenário é bem diferente. Com investimentos estimados em cerca de R$ 36 bilhões – com base nos principais protocolos firmados pelo governo de Minas e anunciados pela iniciativa privada para os próximos quatro a cinco anos –, essas cidades vivem um clima eleitoral diverso do das outras. Além das propostas comuns em todas as eleições municipais, também entram na pauta dos 42 candidatos na corrida por essas cidades questões sobre as mudanças na infraestrutura necessária para receber as novas fábricas, usinas e complexos industriais. Em primeiro lugar no ranking das mais cobiçadas em Minas Gerais, Congonhas tem este ano sete candidatos à prefeitura e já no início da campanha eleitoral não faltam ideias sobre as melhores formas de usar politicamente a boa fase da economia local.
Dos R$ 13,4 bilhões anunciados pela iniciativa privada para a cidade dos profetas de Aleijadinho, a maior parte – R$ 11 bilhões – está prevista para um projeto de exploração mineral da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). O restante chegará à cidade a partir do segundo semestre de 2013, por meio da expansão das atividades mineradoras da Ferrous, empresa formada por um fundo de investimentos norte-americanos, australianos e ingleses. Os empregos gerados durante as obras e o elevado número de funcionários contratados pelas grandes mineradoras despontam como atrativos para toda a região, embora venham acompanhados de polêmicas envolvendo a necessidade de preservação do patrimônio local e de problemas sociais provocados pelo aumento de moradores.
Mas até mesmo os problemas provocados pela atração de investimentos podem render frutos aos candidatos à prefeitura, ao alimentar um debate que é também uma ´ótima oportunidade para ganhar a confiança do eleitor. O candidato Altary de Souza (PSB) ressalta que as propostas sobre o diálogo com as empresas devem ser acompanhadas de perto pela população, uma vez que influenciarão, e muito, a rotina da cidade. “Nossa prioridade é mostrar as melhores maneiras para que as empresas mineradoras consigam converter em benefício também para a população esses altos valores de investimentos. Entendemos a importância de usar nossos recursos, mas não dá para esquecer do nosso patrimônio cultural e ambiental. É um tema fundamental para os próximos anos. Até hoje não conseguimos fazer com que esses recursos cheguem à área social e por isso a população fica prejudicada”, defende Altary.
Já o candidato José Freitas Zelinho (PSDB) ressalta que caberá ao Executivo municipal garantir que os investimentos gerem empregos e melhorias na infraestrutura. “Temos matéria-prima, posição estratégica com estradas e linhas férreas e proximidade com grandes centros, condições perfeitas para o setor de mineração. Cabe a nós trabalhar mais para agregar valor à nossa produção mineral”, afirma. O tucano destaca também que, com as dificuldades enfrentadas pelo setor em função da crise internacional, as negociações com a iniciativa privada devem receber grande atenção do futuro prefeito, para evitar adiamentos e cortes nos investimentos.
Em Patrocínio, no Alto Paranaíba, um protocolo assinado entre o governo de Minas e a Vale prevê investimentos de R$ 3,6 bilhões na construção de um complexo de mineração para exploração de uma jazida de fosfato. A iniciativa já havia se tornado bandeira em campanhas anteriores, içada pela promessa de geração de cerca de 6 mil empregos diretos e indiretos para a cidade, de 85 mil habitantes. Agora, com a confirmação da nova unidade, os candidatos buscam o apoio dos eleitores voltando o foco para a necessidade de avançar no reforço da infraestrutura para que o município aproveite a oportunidade de ouro.
O atual prefeito e candidato à reeleição, Lucas Campos (PPS), ressalta que a garantia dos recursos que chegarão por meio do setor privado fez surgir uma série de demandas para Patrocínio, configurando o campo em que a disputa política será travada. “Existe uma expectativa de instalação de muitas empresas nos próximos anos e esse tema foi usado recorrentemente nas últimas campanhas. Entretanto, não é o recurso investido que queremos mostrar para a população e sim o que temos que fazer para que esse crescimento represente melhorias na qualidade de vida das pessoas. Com a vinda da empresa, teremos também mais imigração e aumento na demanda por saúde pública, educação e moradia”, afirma Lucas.
Na campanha à Prefeitura de Itabira, Região Central do estado, o investimento da iniciativa privada para o setor da mineração também já se destaca como um dos temas importantes da economia local que invadiram a disputa política. “Esse cenário movimentado da região faz com que várias propostas apareçam, o que é muito positivo para nossa política. Com a economia aquecida e boas opções de investimentos cria-se a oportunidade de aplicar tais recursos em favor da comunidade, abrindo alternativas de desenvolvimento. Queremos não só a chegada da Vale, mas também de outras empresas que se tornem alternativas para a cidade”, comenta o candidato Roberto Chaves (PSDB). Até 2014, a Vale pretende investir R$ 2,5 bilhões no município.
MAIS COBIÇADAS
Cidades na rota dos investimentos
1º
Cidade: Congonhas
Investimento: R$ 13,4 bilhões
– Desde o ano passado, a CSN vem acelerando os projetos para implantação de uma usina de aço em Congonhas, com investimentos estimados em R$ 11 bilhões. Outra empresa que pretende ampliar as atividades na região é a Ferrous, que confirmou o investimento de US$ 1,2 bilhão (cerca de R$ 2,4 bilhões) para ampliar em 15 milhões de toneladas sua produção de minério de ferro até 2016. Sete candidatos disputam a prefeitura.
2º
Cidades: Grão Mogol, Padre Carvalho e Rio Pardo de Minas
Investimento: R$ 8,3 bilhões
Os recursos para projetos voltados para a exploração mineral foram anunciados pela Sul Americana de Metais/Votorantim (R$ 4,2 bilhões), ENRC/Bahia Mineração (R$ 3,6 bilhões) e Vale (R$ 560 milhões)
3º
Cidades: São Joaquim de Bicas,
Brumadinho e Igarapé
Investimento: R$ 4 bilhões
– Protocolo assinado em julho do ano passado prevê a expansão da unidade Serra Azul pela MMX, mineradora do Grupo EBX. A capacidade de produção esperada até 2015 é de 24 milhões de toneladas de minério de ferro. A previsão é de que serão gerados 5,5 mil empregos diretos na fase de execução das obras.
4º
Cidade: Patrocínio
Investimento: R$ 3,6 bilhões
– Anunciados pela Vale Fertilizantes S/A, os investimentos serão direcionados
para a abertura de uma mina de rocha fosfática. No projeto estão previstas também a construção de unidades industriais para viabilizar a produção de ácidos sulfúrico e fosfórico, além de fertilizantes fosfatados
de alta concentração.
5º
Cidades: Morro do Pilar e
Santa Maria do Itabira
Investimento: US$ 2,8 bilhões
– Em junho, executivos da Manabi Holding – mineradora criada no ano passado por ex-executivos da Vale e da MMX e investidores canadenses e americanos – definiram os detalhes do investimentos para a região. O projeto prevê a exploração do minério e a expectativa é de que as operações abram 2 mil empregos diretos, sendo 1,5 mil no complexo minerador.
6º
Cidade: Itabira
Investimento: R$ 2,5 bilhões
– Até 2015, a Vale planeja readequar a Usina do Cauê, para ampliar a produção para 20 milhões de toneladas de itabirito compacto anualmente. O projeto prevê 6 mil empregos diretos durante as obras e cerca de 100 novas vagas na usina.
7º
Cidade: Tupaciguara
Investimento: R$ 1,5 bilhão
– O Triângulo Mineiro receberá até o fim deste ano altos recursos para produção de tecnologia e ampliação de unidades voltadas para o setor aeronáutico. Em Tupaciguara, a instalação da fábrica da Axis Aeroespace, que desenvolve aviões executivos com capacidade para transportar até oito pessoas, deverá entrar em funcionamento a partir de 2015, como parte do complexo aeronáutico que vem sendo implantado na região.
Fonte: Estado de Minas
Ibram