Uma crise no abastecimento de um conjunto de metais está levando empresas brasileiras e o governo a tentar iniciar um novo tipo de exploração mineral, voltada para o ramo de alta tecnologia.
Usados na fabricação de uma variada gama de produtos, de tablets a carros elétricos, os metais de terras raras –um conjunto de 17 elementos químicos– são explorados praticamente em regime de monopólio pela China.
Os chineses, no entanto, vêm aumentando as restrições à exportação dessa matéria-prima, o que pôs em risco o abastecimento de diversos tipos de indústrias e gerou uma corrida mundial por alternativas.
O preço chegou a subir até 4.000% desde 2008. Naquele ano, a produção da China foi de 120 mil toneladas, em um mercado estimado em até US$ 3 bilhões.
O valor de venda pelos chineses costumava ser tão baixo que a exploração comercial das terras raras em outras partes do mundo não compensava. Agora, com a maior demanda pela matéria-prima e a escalada dos preços, a situação mudou.
O Brasil tem reservas inexploradas desse conjunto de minérios em Estados como Goiás e Amazonas.
O grupo canadense MBAC divulgou, no começo do mês, que uma área sua em Araxá (MG) tem um “dos mais altos níveis de óxidos de terras raras” no mundo.
Outras indústrias trabalham para obter esse conjunto de metais por meio do processamento de resíduos de outros minérios.
A Mineração São Francisco de Assis, que explora estanho em São Félix do Xingu (PA), tenta obter terras raras em seus próprios rejeitos. A empresa pretende começar uma unidade-piloto já no próximo ano. A CSN, por meio de uma subsidiária, também tem um projeto.
O governo federal tenta atrair a Vale e sua estrutura em mineração para o ramo das terras raras. Também cogita usar financiamentos do BNDES para estimular novos projetos desses minérios.
PROBLEMAS AMBIENTAIS
Durante a mineração, dois elementos radioativos, o tório e o urânio, costumam vir com as terras raras. É preciso separá-los dos outros minerais explorados.
Isso faz com que a indústria precise montar um esquema de alta proteção ambiental, encarecendo o trabalho.
Almir Clemente, dono da Resind, diz que gerir o tório e o urânio é “o maior obstáculo” para a produção. Ele pretende começar a produzir 50 toneladas por mês de terras raras a partir de fevereiro em São João del Rei (MG).
Com o aumento das restrições na China, EUA e Austrália também já anunciam investimentos no setor.
Felipe Bächtold – Folha.com