Ao contrário de gigantes do setor mineral como a Vale – que demitiu esta semana 1.300 funcionários e deu férias coletivas a outros 5.500 – e a ArcelorMittal, maior grupo siderúrgico do mundo, que já reduziu sua produção em 30%, os grupos mineradores que operam no Rio Grande do Norte parecem não sentir qualquer respingo da crise financeira mundial, pelo menos por enquanto. A constatação é do coordenador de Desenvolvimento de Recursos Minerais da Sedec, Otacílio Oziel de Carvalho. Ainda que na opinião dele seja cedo para dar qualquer parecer se o RN será afetado ou não pela crise, os projetos de empresas como a Vidros América, que está construindo uma fábrica em Macaíba, a VonRoll, multinacional suíça especializada em beneficiamento de mica, em Currais Novos, além da fábrica da Votorantim em Baraúna continuam a todo vapor. Sobre os investimentos da Mhag Mineradora, que planeja aumentar a produção de ferro para 1,2 milhão de toneladas por mês a partir do próximo ano (atualmente se produz em Jucurutu 400 mil toneladas/mês), o especialista acredita que deverão se manter.
Embora frise que o mundo passa pela crise há apenas um mês e os projetos em mineração costumam ser de longo prazo, o que torna precipitado o julgamento dos efeitos sobre o RN, Carvalho antecipa que, pelo menos por enquanto, os projetos caminham como se nada tivesse acontecido. Até as demissões, que já se espalharam em inúmeras indústrias de diversos setores no Brasil e no mundo, ainda não estouraram por aqui. ‘‘Nós temos acompanhado vários projetos e por enquanto não há qualquer indício de esfriamento. Acho, inclusive, que nós vamos continuar recebendo investimentos no setor, independente da crise’’, aposta. O setor de recursos minerais no estado emprega hoje, no mínimo, 18 mil pessoas diretamente e representa cerca de 20% do Produto Interno Bruto, incluindo petróleo, sal e mineração.
O fato de ainda não ter sido atingido pela crise não significa, no entanto, que o setor mineral do Rio Grande do Norte esteja blindado. Como ainda é cedo para fazer qualquer análise, pontua Carvalho, pode ser que daqui um certo tempo os efeitos recaiam sobre o segmento. ‘‘Não temos qualquer sinal de demissões ou esfriamento na construção das fábricas. Pode ser que mais pra frente a gente sinta os impactos, mas até agora não temos indícios de que seremos afetados’’, reforça ainda. Sobre a Mhag, no meio do ano haviam surgido rumores de que a mineradora teria descoberto uma reserva gigante no município de Jucurutu, com potencial, em toneladas, de 3 bilhões – algo semelhante à jazida de Carajás, no Pará, o que multiplicaria os empregos já existentes na região. Na época, os diretores não puderam dar qualquer declaração sobre o assunto, já que a empresa estava em processo de abertura de capital e se encontrava no chamado ‘‘período de silêncio’’. A reportagem do Diário de Natal tentou entrar em contato ontem com o diretor do Conselho Administrativo da Mhag, Pio Sacchi, bem como com o diretor-presidente, Luís Nepomuceno, mas não obteve sucesso.
Para os analistas do mercado, as demissões na Vale apontam para um corte mais profundo de produção do que os 30 milhões de toneladas – 9,5% do total – anunciados no fim de outubro. O banco Goldman Sachs, por exemplo, avalia que o corte da produção pode subir para 45 milhões de toneladas. Até setembro, antes da quebra do banco Lehman Brothers, que detonou a crise financeira mundial, a Vale planejava ampliar a produção de 270 milhões para 300 milhões de toneladas de minério de ferro. A mineradora informou que a maior parte dos cortes está ocorrendo em Minas Gerais, onde fica a segunda maior mina da Vale, menor apenas que o complexo de Carajás, no Pará. Vinte por cento dos demitidos são de Minas, de onde também são 80% dos que foram obrigados a entrar de férias.
Fonte: Diário de Natal