O ouro branco do Araripe

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Pernambuco possui 30% das reservas de gipsita do país e produz 95% do gesso consumido. O pólo emprega 12 mil pessoas diretamente e cerca de 64 mil de forma indireta, segundo dados do Sindicato das Indústrias de Gesso (Sindugesso). O faturamento das empresas alcança aproximadamente R$ 640 milhões por ano.

A gipsita serve de matéria-prima para diversas indústrias. O minério pode ser usado na agricultura, como corretivo para o solo, e depois de calcinado serve para a fabricação de cimento e gesso para a construção civil, moldes cerâmicos, nas indústrias de jóias e automotiva, na medicina, na odontologia, entre outras.

Mesmo com todas essas possibilidades, no Brasil o produto ainda é pouco utilizado, se comparado à Europa e Estados Unidos. Enquanto aqui o consumo é de 15 kg por habitante/ano, na Europa esta proporção é de 80 kg/hab/ano e nos Estados Unidos – o maior consumidor de gesso do mundo – chega a 118 kg/hab/ano.

“Nossa cultura de construção é portuguesa, de pedra, de casas que têm que durar cem anos. Nos Estados Unidos e na Europa há uma mobilidade maior. Mas a perspectiva é que com as novas tecnologias a gente consiga conquistar mais espaço na construção civil, que hoje em dia ainda faz paredes muito pesadas”, destaca o presidente do Sindugesso, Josia Inojosa Filho.

No Brasil o gesso ainda é pouco utilizado, se comparado à Europa e Estados Unidos. Aqui o consumo é de 15 kg por habitante/ano. Na Europa é de 80 kg e EUA de 118 kg

De acordo com Inojosa, a expectativa é que o consumo cresça em torno de 15% a 20% este ano. “O Sudeste consome 45% do gesso produzido no Brasil. O consumo per capita deve passar para 17 kg por habitante por ano. Em Pernambuco, deve ir de 4% para 7% do total, devido ao aumento do uso na construção civil e em outras atividades”.

Qualidade – A coordenadora do Laboratório de Tecnologia do Gesso do Instituto Tecnológico de Pernambuco, Katarzyna Michalewicz, trabalha visando a qualificação do produto e das empresas do pólo. “Estamos fazendo um treinamento em 15 empresas para que elas possam competir, exportando para o mercado europeu”, conta.

Segundo Katarzyna, o grande problema para a maior popularização do gesso é a mão-de-obra. “Quando uma parede de alvenaria cai, você coloca a culpa no pedreiro, mas quando uma parede de gesso cai, você coloca a culpa no gesso. E não é isso. É preciso qualificar os profissionais para trabalharem com o gesso”, defende.

Dificuldade no escoamento

Entre os grandes entraves para o crescimento do Pólo Gesseiro está a dificuldade de escoamento da produção. Com minas de gipsita com maior pureza do mundo (96%), o pólo tem um potencial que hoje é limitado pela falta de alternativas de transporte. “O grande futuro dali vai ser a Transnordestina. Com a ferrovia, as empresas vão poder escoar a produção de forma mais fácil. O custo com transporte é muito alto e impede o setor de ser competitivo”, avalia o economista José Vergolino, da Faculdade de Boa Viagem.

Segundo dados do Sindugesso, o custo da tonelada de gesso agrícola, hoje, por exemplo, é de R$ 19, mas o frete rodoviário para trazer ao Recife pode chegar a R$ 65/ton. O mesmo acontece com o escoamento da produção para a indústria de cimento.

“Com a Transnordestina, fazendo a ligação entre as regiões com o transporte multimodal, utilizando trem e navio, a tendência é triplicar o que é produzido. O que são entre 400 mil e 600 mil toneladas/ano, tem potencial de se transformar em até 1,8 milhão de toneladas/ano, só para a indústria de cimento. Levamos entre sete e dez dias entre o pedido e a entrega do produto no Sudeste. Com a ferrovia poderíamos ter um centro de distribuição”, aponta Josias Inojosa Filho, presidente do sindicato.

Ele critica o andamento da obra da Transnordestina. “Está a passos de tartaruga. Um processo extremamente lento e que vira uma preocupação. A obra concluída está prometida para 2010, mas agora já se fala em 2012. A princípio nos faz parecer que não há prioridade para a execução, tanto da Companhia Ferroviária Nacional (CFN), quanto do governo federal”, reclama.

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que controla a CFN, responsável pela obra, disse que não iria se manifestar sobre os comentários, afirmando apenas que “está cumprindo o seu papel”.

Quando estiver pronta, a Transnordestina terá 1.860 quilômetros, ligando os portos de Pecém (CE) e Suape (PE) a Eliseu Martins, no Piauí. O custo total do projeto é de R$ 4,5 bilhões e há a previsão de entrega de 1,1 mil quilômetros até 2010.

Manejo florestal consciente
   
Para que a gipsita se transforme em gesso, é necessário realizar a calcinação (cozimento do minério para retirada de água). Esse procedimento é feito em fornos, que funcionam em sua maioria com lenha retirada da caatinga, muitas vezes de forma ilegal e sem certificação do Ibama. Buscando a conservação do único bioma tipicamente nacional, o instituto iniciou um trabalho de conscientização e fiscalização no Araripe. “Começamos há dois anos, para a compreensão de que é necessário conservar a caatinga para o próprio desenvolvimento do setor”, conta João Arnaldo Novaes, superintendente do Ibama-PE.

O órgão propõe a implementação do manejo florestal, para a retirada da madeira de forma ambientalmente correta. “Não é questão de não usar a lenha, mas de ter um plano de manejo para que seja possível contar com a caatinga para o resto da vida”, defende.

Como resultado, foi feito um cronograma de adequação do Pólo Gesseiro à legislação, o que gerou a interdição de 41 empresas desde o ano passado. “A questão energética éum problema da região, mas há alternativas. Inclusive o uso da poda de caju do Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. Após a atuação do Ibama, quase todo o setor está com licença ambiental. Há indícios de que 80% a 90% da madeira já vêm de origem legal”, comemora.

O presidente do Sindugesso, Josias Inojosa Filho, diz que a questão é séria e que os planos de manejo não são suficientes para garantir a energia necessária. Para ele, as exigências são muitas e como há vários posseiros na região, não há como comprovar a titularidade da terra, uma das exigências para a aprovação do Ibama. “O gesso tem condições de ser produzido de forma ambientalmente correta”, destaca.

Pólo Gesseiro do Araripe
Região: Chapada do Araripe
Muncípios – Araripina, Bodocó, Ipubi, Ouricuri e Trindade
Habitantes – 222.661
Número de empresas – 600* (150 mineradoras, 140 calcinadoras e mais de 530 fábricas de pré-moldados)
Empregos diretos – 12 mil
Indiretos – 64 mil
Produção – 2,8 milhões de toneladas/ano
Faturamento anual – R$ 640 milhões
Utilização do gesso – construção civil, agricultura, medicina, odontologia, entre outras (cotação do dólar usada: R$ 1,64)
– Dados do Sindugesso IBGE

Juliana Cavalcanti
Especial para o Diario
FonteDiário de Pernambuco

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