Natural de Rondônia, norte do País, o economista Noé Vieira dos Santos, trabalha no setor da mineração desde os 18 anos, tendo servido na CPRM- Belém e no 5° Distrito, também no estado do Pará. Há muitos anos no estado do Paraná ele se encontra na linha de frente das atividades relacionadas à micro e pequena mineração no estado.
RedeAPLmineral: Você participou das primeiras conversações para a formação da Rede APL Paraná, conte um pouco do trabalho que foi realizado.
Noé Vieira: As ações remontam de 2004, quando efetivamente o governo federal demonstrou que fomentaria os APLs que apresentassem planos claros de desenvolvimento. Aqui no Paraná o que acontecia era que tinha muitas instituições e entidades trabalhando isoladamente com os produtores. O Sebrae, o governo do estado através de suas secretarias, e outras instituições, todos realizavam atividades, mas sem uma coordenação. Foi aí que se firmou um termo de cooperação mútua dos diversos atores locais, que permitiu uma maior integração e eficácia do processo.
RedeAPLmineral: Como foi o processo de escolha dos APLs prioritários?
Noé Vieira: Na época foi realizado um convênio para mapear os potenciais segmentos e setores de APLs no Estado. Chegou-se ao número de 100 que foi reduzido aos atais 22 APLs sendo formentados com a ajuda da Rede. Duas dessas são de base mineral: o APL Cerâmica Branca de Campo Largo e o APL de Cal e Calcário da região metropolitana de Curitiba que engloba os municípios de: Colombo, Rio Branco do Sul, Almirante Tamandaré, Itaperuçú, Campo Largo, Ponta Grossa e Castro.
RedeAPLmineral: Qual foi o conceito de rede utilizado no Paraná?
Noé Vieira: Optamos por uma rede mais abrangente, que não só planejava as ações mas que apoiava efetivamente, ajudando na execução dos projetos nas áreas de capacitação e inovação.
RedeAPLmineral: Você pode dar um exemplo?
Noé Vieira: Antes de estruturarmos a rede, os micro e pequenos produtores estavam excluídos, não recebiam qualquer tipo de ajuda via Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT) no que tange ao treinamento de pessoal. Com a negociação junto ao conselho estadual de administração dos recursos conseguimos dar treinamento em nível de chão de fábrica. Também houve ações para transferência de tecnologia e inovação nos pátios das empresas.
RedeAPLmineral: Como vocês trabalharam as questões de governança?
Noé Vieira: A questão da governança não pode ser imposta. Os empresários precisam se organizar entre eles. Isso aconteceu com o cal e calcário aqui no Paraná. As empresas são basicamente familiares, datando das décadas de 20 e 30 do século passado. E até pouco tempo atrás eles utilizavam técnicas tradicionais de explotação, estração e beneficiamento.
Então para mudar o pensamento, a cultura, tivemos ajuda da nova geração de empresários que assimiram no lugar dos pais. Algumas dessas jovens lideranças despontaram e começaram o lento processo de inovação no setor, abrindo os olhos para a questão da cooperação entre empresas.
RedeAPLmineral: Por onde começaram?
Noé Vieira: Começamos realizando seminários para os produtores locais. Trouxemos o Ministério de Minas e Energia (MME) e o Ministério de Ciência e Tecnologia, que estavam apoiando APLs de base mineral. Apartir dai o governo federal nos sugeriu fazer um plano para buscar financiamento na área. Foi aí que começamos a elaborar um termo de referencia que foi encaminhada ao MCT/ MME para avaliação e depois ao FINEP. E tivemos a felicidade de conseguir R$500 mil, com a gestão do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), e focomos uma serie de planejamentos.
RedeAPLmineral: Quais os próximos passos para os APLs de base mineral no Paraná?
Noé Vieira: No último dia 04 de novembro foi feito seminário para a apresentação de projetos de convênio nas áreas de energia, qualificação profissional, sistema de informações geográficas, dentre outros. Esperamos que possam sair resultados positivos para o setor, que englobem melhorias nas áreas: ambiental, de qualificação e caracterização.
RedeAPLmineral: Você participou do I Encontro do Grupo de Trabalho de Identificação e Caracterização da RedeAPLmineral?
Noé Vieira: Minas sempre sobressai quando o assunto é mineração. Foi muito importante essa reunião especialmente para identificação e caracterização de APLs de base mineral. Estamos negociando uma metodologia para melhor compreender e analisar os APLs. Levantamentos via questionários estão sendo elaborados e nos ajudarão a compreender melhor a real condição dos produtores. Daí a importância do encontro na UFOP. Estamos pensando em seguir o exemplo e realizar a primeira reunião do Grupo de Trabalho Gestão e Governança, talvez no primeiro semestre do próximo ano.
RedeAPLmineral: Qual o papel da RedeAPLmineral neste processo?
Noé Vieira: Acredito que a partir do momento em que se observou que não se tinha a exata noção do tamanho do setor mineral no país, houve a necessidade de se realizar uma discussão ampla, e dessa discussão surgiu a idéia de fomentar a Rede APL de apoio exclusivo aos APLs de base mineral. É uma rede de alta importância até para valorizar este segmento econômico frequentemente incompreendido pelas pessoas.
A rede deve ter o papel de aglutinar novas forças no complexo trabalho de encarar e resolver os desafios e problemas do setor.
RedeAPLmineral: Quais são os desafios que a RedeAPLmineral precisa superar?
Noé Vieira: O grande desafio é a de consolidar a auto-sustentabilidade da rede. Outro é conseguir fazer com que as pessoas, que possam contribuir para o fomento de conhecimento e tecnologia no setor mineral, realmente participam dela.
Fonte: RedeAPLmineral