A Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) vai implantar um laboratório-fábrica de ímãs de terras-raras em local ainda a ser definido na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Os investimentos de R$ 80 milhões já estão garantidos pela companhia, que também buscará parcerias de empresas privadas e linhas de crédito federais para viabilizar o empreendimento, o primeiro do tipo no País.
De acordo com o diretor de Mineração, Energia e Infraestrutura da Codemig, Marcelo Nassif, os produtos de terras-raras que serão usados como matéria-prima para a fabricação dos ímãs serão extraídos no mesmo processo de produção de nióbio pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), líder mundial no mercado do produto, a partir de seu complexo industrial em Araxá, no Alto Paranaíba.
“A CBMM é parceira da Codemig e o nióbio da jazida da companhia em Araxá tem no corpo mineral as terras-raras. As reservas desses produtos são em quantidades próximas às do próprio nióbio”, afirma o diretor. Segundo ele e conforme já divulgado pela CBMM, a empresa já está trabalhando no desenvolvimento de tecnologias de terras-raras.
De acordo com o diretor da Codemig, a vantagem competitiva da parceria com a CBMM é que a operação já é custeada, incluindo lavra, beneficiamento e produção, porque é proveniente do mesmo processo de extração do nióbio. “O projeto traz um aspecto importante que é a inovação porque não existe um conceito como este no Brasil. Estamos dando um salto tecnológico”, destaca.
Na avaliação de Nassif, o projeto vai cobrir uma lacuna, porque o mercado internacional desse tipo de ímã forçou os fabricantes a instalarem fábricas em regiões com oferta abundante de matéria-prima, como a China, impondo um monopólio de 97% da produção mundial de óxidos de terras-raras e limitando a exportação por meio de cotas. Como consequência, o mercado nacional passou a ser atendido exclusivamente via importação, o que resulta em volatilidade de preços e escassez de oferta.
Os ímãs de terras-raras são componentes-chave de aplicações intensivas em energia, como aerogeradores e motores elétricos para máquinas industriais, eletrodomésticos, elevadores e carros híbridos e elétricos. “A lógica do projeto está ligada a todas as formas de energia que serão mais usadas no futuro”, explica o diretor da Codemig.
O projeto será desenvolvido em parceria com a Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), contando com cerca de 20 especialistas técnicos. Além disso, a Codemig contratou a Fundação Certi, por R$ 3 milhões, para elaborar o plano de negócio e o projeto executivo do laboratório-fábrica.
A capacidade anual do empreendimento será de 100 toneladas de ímãs e a implantação está programada para 2017. Segundo Nassif, o investimento necessário será R$ 890 milhões, já garantidos pela Codemig, mas “a companhia vai buscar parceiros privados, entre fabricantes de ímãs, fornecedores e consumidores, além de linhas de financiamento federais”.
Cadeia – O município onde será instalada a planta ainda não está definido, mas o trabalho da Certi determinará a melhor localidade para a instalação do laboratório, que deve ficar na RMBH. Além disso, a fundação também ficará responsável por estruturar um ambiente favorável à cadeia das ligas e ímãs de terras-raras, com a atração e o desenvolvimento de fornecedores e insumos de mineração e metalurgia e estímulo a pesquisas.
Ainda no âmbito do contrato com a Certi, serão feitos estudos de viabilidade técnica e econômica para a instalação de uma plataforma industrial de grande porte de ligas e ímãs permanentes de terras-raras no Estado. Enquanto isso, o laboratório-fábrica ficará a cargo de desenvolver estudos e ao mesmo tempo iniciar a fabricação em pequena escala.
As terras-raras encontradas nas reservas da CBMM em Araxá são praticamente um subproduto da exploração do nióbio. Isso reduz o custo industrial e pode tornar a Codemig mais competitiva em preços em relação àqueles que só exploram terras-raras.
As terras-raras são 17 elementos químicos metálicos parecidos, que geralmente ocorrem juntos na natureza. Estes minerais são insumos utilizados para a produção de equipamentos eletrônicos, superímãs, fertilizantes, catalisadores de automóveis, combustíveis, vidro e lentes especiais e fabricação de motores, entre outros.
Fonte: Diário do Comércio