“O setor mineral está muito dependente da oferta e da procura a nível mundial que ditam as regras portanto temos que ser cautelosos nas afirmações demasiado generalistas. O futuro de Portugal está na nossa capacidade de inovação do conhecimento, científico e tecnológico para a descoberta e valorização desses recursos”, assume Teresa Ponce de Leão, Presidente do Conselho Diretivo do LNEG – Laboratório Nacional de Energia e Geologia, I.P, em entrevista à Revista Pontos de Vista. Quais as potencialidades do setor mineral? De que forma estamos a aproveitar essas mais-valias? Qual o papel do LNEG nesse desenvolvimento? A estas questões a nossa interlocutora deu resposta.
A nível nacional, o setor dos recursos minerais continua a ter grandes potencialidades. As minas da Panasqueira ou Neves Corvo são dois dignos exemplos. Portugal tem sabido tirar proveito das suas promissoras características geológicas?
Diria que sim apesar de termos passado por uma fase em que o licenciamento das explorações mineiras era bastante dificultado. De facto a análise de sustentabilidade, nas suas vertentes, ambiente, economia e sociedade, há cerca de 5 anos atrás era bastante desequilibrada a favor do ambiente e portanto bastante restritiva na atribuição dos licenciamentos. O LNEG, sendo um instituto de investigação em energia e geologia com uma componente metodológica forte na análise dos critérios de sustentabilidade sempre lutou pela necessidade de uma abordagem responsável e sempre colaborou com o ambiente no sentido de encontrar uma plataforma em que os recursos naturais são salvaguardados.
Também do lado do setor mineiro há mais consciência da necessidade de preservar o ambiente e em particular, neste caso, o equilíbrio natural com menos poluição. A indústria mineira modernizou-se, associou-se com o setor da investigação e passou a seguir as melhores práticas ambientais quer na exploração quer na mitigação dos impactos a posteriori.
Mas não é só o ambiente que favorece ou prejudica a exploração mineira que está muito dependente, como qualquer outra atividade, da viabilidade económica das explorações que depende de vários fatores, das reservas disponíveis na jazida, dos custos de exploração onde é muito relevante o tipo de concentração e a acessibilidade do reservatório e não menos importante das cotações mundiais.
De que forma, o setor mineral pode ser estratégico para o desenvolvimento económico de Portugal, para a geração de riqueza e para a criação de emprego?
O setor mineral e em particular a indústria extrativa cria riqueza associada ao próprio negócio, transação comercial do minério que deixa impostos e também royalties para o estado português. Acresce que há um valor acrescentado ao longo da respetiva cadeia de valor, tanto maior quanto mais degraus dessa cadeia se concretizarem no âmbito da economia nacional e para além dos postos de trabalho diretos e indiretos que cria à sua volta, a indústria extrativa é logo na sua origem uma fonte de criação de nova riqueza, que é extraída da natureza e acrescentada ao património coletivo. Por outro lado há outros setores associados que se têm vindo a desenvolver em torno das minas como o turismo, o património cultural ou a investigação e desenvolvimento. Por último contribui para a qualificação das pessoas aumentando o índice nacional de competências especializadas.
Há vários exemplos de nichos de desenvolvimento devido à mina como os concelhos de Torre de Moncorvo ou Castro verde mas gostaria de salientar um exemplo interessante do significado da indústria extrativa no desenvolvimento integrado, criação de postos de trabalho e dinamização da economia em geral como a atual situação vivida no Concelho de Aljustrel em que o emprego direto nas minas representa cerca de 720 postos de trabalho sendo que esse valor sobe substancialmente se considerarmos o emprego indireto sendo um dos concelhos com menor taxa de desemprego, cerca de 7%, por via da mina. Por esta mesma via tem vindo a ser um polo de atração turística e de investigação estando neste momento a acolher o novo Centro de Dados Tecnológico Mineiros do LNEG. Ainda pela qualificação do pessoal é neste momento um exportador de mão de obra qualificada para outros centros de desenvolvimento. Trata-se de um bom exemplo de exploração de sinergias em torno de uma aposta integrada.
Hoje, há quem olhe para o setor mineral europeu como uma indústria inovadora e crucial em toda a cadeia de valor. Na sua opinião, é importante apostar na consciencialização da população para a relevância deste setor no quotidiano? Por outro lado, acredita que as próprias empresas têm sabido retirar os devidos benefícios de um setor que é cada vez mais importante para a economia portuguesa e europeia?
As populações têm que estar informadas e os investidores comprometidos com a comunidade onde vivem. Para isso é necessário que seja disponibilizada informação cautelosa mas verdadeira e clara sobre riscos associados mas também sobre a forma como esses riscos podem ser mitigados e quais as oportunidades e benefícios que resultam da exploração desses recursos para si próprias. Os governos têm que criar condições de facilitação para o desenvolvimento empresarial mas também assumir o seu papel de regulador consciente e responsável.
Acrescentar novos degraus na cadeia de valor dos recursos minerais é, sem dúvida, um elemento crucial para garantir a sustentabilidade, minorando as incertezas que derivam das vicissitudes dos mercados globais. Aqui a questão da dependência tecnológica e a escala do investimento são fatores decisivos que podem prejudicar o aumento da dimensão dessa cadeia de valor. Aqui o conhecimento agregado é uma fator de discriminação positiva.
Uma das funções do LNEG consiste em divulgar junto do setor empresarial áreas com potencial mineiro. De um modo geral, o tecido empresarial português está receptivo a esses novos investimentos?
O investimento no setor mineiro é capital intensivo. O setor empresarial português tem dificuldade no acesso ao crédito. Penso que a recetividade a estes investimentos depende das condições de acesso ao dinheiro que seja possível oferecer. As medidas recentes como a redução do IRC são ajudas positivas para esta sensibilização.
Portugal tem tido uma atuação eficiente na utilização de recursos minerais, desde a fase da extração até à sua recuperação? Na sua opinião, o que ainda pode ser feito? Qual o papel que o LNEG tem desempenhado?
O LNEG tem como missão conhecer o território nacional e seus recursos naturais. No caso concreto o LNEG desenvolve cartografia geológica e investiga o potencial dos recursos minerais associado a esse conhecimento do território, estudos que permitem identificar a ordem de grandeza do potencial mineral em Portugal e que deu origem ao famoso indicador de um produto interno bruto, trata-se de um valor simbólico, naturalmente carregado de grande incerteza porque é afetado por muitas variáveis não controladas, mas que indica que o contributo da Indústria Mineral para esse PIB pode crescer, em particular na atual, porventura a taxas não alcançáveis por outros setores. O LNEG disponibiliza toda esta informação na sua base de dados assente no GeoPortal cujo formato está a ser melhorado para consulta mais direta e generalizada. Posteriormente o LNEG tem competências para oferecer análises mais finas de apoio à identificação do potencial da jazida, métodos de exploração e estratégia de exploração através da disponibilização de metodologias de geoquímica e geofísica avançadas e ainda no domínio do processamento dos minérios até à obtenção dos concentrados. Neste âmbito pode dizer-se que o LNEG apóia os empresários no desenvolvimento dos seus planos de lavra e mitiga o risco associado às decisões.
Hoje, já é celebrado o Dia Europeu dos Recursos Minerais. Que outras iniciativas podem ser desenvolvidas com o objetivo de aumentar a visibilidade do setor e, simultaneamente, dar a conhecer ao cidadão comum as suas potencialidades?
Fundamentalmente ações de divulgação junto dos cidadãos, fundamentalmente Escolas, movimento que , aliás, tem assumido grande relevância nas atividades do Ciência Viva e, mais recentemente na criação dos GeoParques e Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro, que têm dado grande contributo para o desenvolvimento a descoberta do valor do Património Geocultural e Geossítios (existe uma Base de dados no GeoPortal do LNEG)
No futuro, que desafios e oportunidades acredita que este setor terá de enfrentar em Portugal? Acredita que, cada vez mais, os portugueses terão consciência de que a riqueza poderá estar em baixo dos nossos pés? Nesse sentido, qual será a estratégia do LNEG?
O setor mineral está muito dependente da oferta e da procura a nível mundial que ditam as regras portanto temos que ser cautelosos nas afirmações demasiado generalistas. O futuro de Portugal está na nossa capacidade de inovação do conhecimento, científico e tecnológico para a descoberta e valorização desses recursos. Seguramente os recursos são uma fonte importante de produção de riqueza que importa explorar de forma inteligente e responsável como mais um contribuo para o aumento do nosso produto interno bruto. O LNEG investiga e desenvolve conhecimento para poder oferecer a máxima informação, trabalhada e relacionada com vista a otimizar as iniciativas empresariais com vista à exploração dos recursos.
Fonte: Pontos de Vista