O “colchão” criado pelos estoques e a produção de Carajás deve permitir ao mercado manter a oferta de minério de ferro, evitando problemas com as alterações causadas pelas paradas da Vale em Minas Gerais em decorrência das chuvas na região. A avaliação foi feita ontem por analistas, após o anúncio feito pela companhia, por meio de fato relevante na noite desta quarta-feira, em razão das chuvas em Minas Gerais, que afetaram o embarque de cerca de 2 milhões de toneladas de minério de ferro da companhia.
Segundo o professor do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), de Santos (SP), Juarez Fontana – que atuou por 22 anos na mineradora -, as siderúrgicas não trabalham tão “apertadas”. “Existe um ‘pulmão’ formado pelos estoques de um a dois meses, que suprem imprevistos de entrega de minério”, afirmou Fontana ao DCI . O especialista destaca que existem cláusulas nos contratos da Vale que abrangem desastres naturais, o que livra a mineradora de eventuais multas no atraso de entrega de mercadorias.
O documento divulgado pela Vale afirmava “força maior” em uma série de contratos com clientes em razão das constantes chuvas em Minas Gerais, onde a empresa tem uma significativa parte de sua produção. No entanto, segundo Fontana, o problema enfrentado pela maior mineradora do mundo não deve afetar as exportações da companhia nem os preços do minério de ferro. “Se considerarmos que a Vale tem uma produção anual em torno de 600 milhões de toneladas, 2 milhões não é um número expressivo”, acredita. Para ele, a maior dificuldade da empresa deve ser enfrentada pelos executivos, que terão de contabilizar os prejuízos de embarques cancelados.
Além disso, Fontana ressalta que o mercado de minério de ferro não é tão concentrado como o de níquel, por exemplo. “Existem grandes players nesse setor, e caso a Vale não consiga suprir a demanda de seus clientes, outras mineradoras como Anglo American, BHP Billiton e Rio Tinto podem temporariamente fornecer para as siderúrgicas”, afirma.
O professor acredita que a Vale deverá levar um mês para se estabilizar em relação à produção mineira. Além disso, a maior capacidade da mineradora hoje está em Carajás, no Pará, de onde deve continuar exportando maiores quantidades.
De acordo com uma fonte consultada pelo DCI, a Vale teria estoques de minério de ferro na Malásia que ainda não foram vendidos. Caso o problema se agrave em Minas Gerais, os embarques internacionais podem começar a ser feitos do país asiático.
Já analistas baseados em Xangai afirmaram ontem que a força maior declarada pela Vale poderá ter “efeito psicológico” sobre os compradores chineses. Isso porque a perda estimada pela mineradora pode eliminar cerca de 10 navios de tamanho normal em termos de abastecimento do mercado, ou o equivalente a 1,5% das vendas anuais para a China, que giram em torno de 130 milhões de toneladas.
Fonte: Brasil Mining Site