O processo de colonização do Brasil, passados pouco mais de cem anos desde o descobrimento, foi determinado pela cobiça lusitana com relação às riquezas minerais que os territórios ainda inexplorados poderiam esconder. De início, estimulados pela descoberta de prata nas colônias espanholas, as expedições, que ainda não eram chamadas de bandeiras, avançaram em direção ao Sul, rota que foi invertida por conta da resistência espanhola. O avanço em direção ao Centro-Oeste logo se revelou promissor com os primeiros sinais da existência de reservas auríferas e em pouco tempo promoveu o povoamento das Minas Gerais, que chegou a ser o maior produtor de ouro em todo o mundo. Não existem relatos confiáveis sobre os volumes extraídos, mas é certo que o ouro brasileiro acabou se transformando no grande financiador da Revolução Industrial, que a partir da Inglaterra moldou a economia moderna.
A extração intensiva e realizada com técnicas rudimentares teve seu auge no século XVII e rapidamente entrou em declínio sem que tivesse deixado, para a colônia e sua população, marcas relevantes. Desde então a extração de ouro, que em parte se deslocou para a fronteira Norte, se deu, do ponto de vista econômico, de forma pouco relevante, situação que perdura, com uma produção – contabilizada – de 62 toneladas em 2010 e 13º lugar entre os produtores mundiais. Há que se assinalar que o controle sobre os 2.819 garimpos legais em atividade é bastante precário, sendo fortes os indícios de que parcela significativa da produção não é contabilizada.
Tudo isso pode mudar, e positivamente, nos próximos anos por conta de novas tecnologias que possibilitam a extração a grandes profundidades e pela valorização do ouro, que passou dos 500% nos últimos dez anos. O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) estima que os investimentos no setor chegarão a U$ 2,4 bilhões até 2015, devendo triplicar em relação às contas anteriores, permitindo que a produção dobre em cinco anos. E poderá ser apenas o começo, havendo quem acredite que o país possa estar diante de uma riqueza tão grande quanto o pré-sal e na qual a Minas Gerais estará reservada posição de destaque. No passado, a extração praticamente se limitava à superfície, claro indicativo da existência de reservas até maiores em profundidades também maiores, fato parcialmente confirmado através de sondagens já realizadas.
São perspectivas, ou mais que isto, bastante animadoras e para as quais tanto o governo quanto as empresas brasileiras precisam estar atentas. O ouro para os brasileiros representa até hoje talvez não mais que uma amarga lembrança de seu passado colonial. Para o futuro, pode e deve ser diferente, quem sabe para que se realize o sonho que nossos antepassados não viram acontecer.
Fonte: Diário do Comércio