Apresentar novas tecnologias para o setor mineral e sua integração a projetos de responsabilidade social e desmistificar a visão de degradação ambiental da indústria. Estes foram os principais objetivos do I Seminário da Indústria Mineral Sustentável, que aconteceu em Curitiba na nesta quinta e sexta-feira (30 e 01/12).
O seminário, realizado pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL), em parceria com o Conselho Setorial da Indústria Mineral da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), fez parte do ciclo de 13 eventos realizados no mês de novembro sobre meio ambiente, micro e pequena indústria, setor moveleiro e mineral.
Empresários, representantes do Ministério Público, da Secretaria de Meio Ambiente e representantes de ONGs discutiram temas como o meio ambiente e a indústria mineral, a evolução da tecnologia na mineração e a responsabilidade social na indústria por meio de apresentação de casos bem sucedidos de empresas paranaenses e brasileiras do setor.
“Precisamos desmistificar a imagem de degradação que existe em torno da exploração mineral. Temos que valorizar a indústria e transformar a visão que as pessoas têm, mostrando o quanto somos dependentes da indústria mineral em nossas vidas”, afirma a coordenadora do Conselho Setorial da Indústria Mineral da Fiep, Ezilda Furquim Bezerra, ressaltando que 85% de tudo o que utilizamos em nossas vidas vêm do reino mineral.
“É importante que se transmita uma visão diferente à população. Em vez de punir as empresas que cometem erros, deveríamos premiar aquelas que têm boas práticas. Assim, conseguiríamos melhores resultados”, sugeriu o vice-presidente do Sistema Fiep, Álvaro Luiz Scheffer. Ele defendeu ainda que a indústria mineral desenvolva tecnologias de menor impacto ao meio ambiente.
As empresas Cal Chimelli, Irmãos Hobi e A.V.P. Extração e Comércio de Areia apresentaram casos de sucesso na relação entre meio ambiente e desenvolvimento sustentável na indústria. No painel sobre evolução da tecnologia na mineração foram apresentados os casos da Geoparaná Engenharia e Meio Ambiente, da Associação Brasileira de Cerâmica e da MWE Engenharia de Projetos. Já a questão da responsabilidade social foi discutida pelas empresas Águas Ouro Fino, Cimento Itambé e Centro das Indústrias Exportadoras de Rochas Ornamentais do Espírito Santo.
Durante a abertura, Ezilda Furquim lançou o desafio. “Vamos criar um concurso de monografias com o tema: Por que a indústria mineral é indispensável? Espero que no próximo ano, quando realizarmos o segundo encontro, possamos premiar as boas práticas”.
Desafios – Segundo Ezilda, a indústria mineral enfrenta obstáculos no Estado, relacionados principalmente à questão ambiental e baixo valor agregado ao produto. “A indústria mineral tem importante participação na economia do Estado, mas não é valorizada. A quantidade de grãos que circula nas rodovias paranaenses equivale à quantidade de cal, calcário e cimento que sai da Região Metropolitana de Curitiba em direção ao interior e a outros estados, ou seja, cerca de 20 milhões de toneladas ao ano”. Para o presidente da Mineropar, Eduardo Salamuni, o baixo valor agregado é a principal dificuldade do setor. “A produção de minerais em toneladas no Paraná é muito superior que a de grãos, mas é não é tão valorizada”.
Outra dificuldade, apontada pelos palestrantes, é a falta de comunicação do setor, tanto com a sociedade como entre os empresários. “Como poderemos mudar a visão das pessoas em relação ao setor se não comunicamos nossas boas práticas?”, questionou José Mendo de Souza, da J. Mendo Consultoria Empresarial, de Minas Gerais.
Segundo ele, a mineração está extremamente ligada ao desenvolvimento econômico, tecnológico, uso responsável dos recursos minerais e agregação de valor. “Uma pesquisa realizada no Brasil revelou que a população tem conhecimento da importância do setor, mas ainda é necessário investir em técnicas de comunicação e recursos humanos e financeiros para mudar a visão de vilã da indústria mineral”.
Perfil setorial – O Paraná é grande produtor de minerais não metálicos, como calcário, granito, talco, areia, dolomita, argila, basalto, xisto e água mineral. Existem cerca de 2.100 empresas em todo o Estado que empregam em torno de 20,7 mil pessoas, mas a maior concentração de indústrias é na parte norte da Região Metropolitana de Curitiba, com a produção de cal e calcário. Segundo dados do Departamento Econômico da Fiep, as vendas do setor representaram 1,65% das vendas industriais do Estado em 2005.
O Paraná produz 10% do cimento brasileiro, sendo 80% em Rio Branco do Sul e 20% em Balsa Nova. Com relação às rochas calcárias, o Paraná possui 9% das reservas nacionais (4,5 bilhões de toneladas) e é o terceiro maior produtor nacional de calcário (8,37%).
Dados da Mineropar apontam que o volume de minérios produzido no Paraná em 2004 foi de 23 milhões de toneladas. “Se considerarmos as empresas informais, a produção poderia aumentar para 47 milhões de toneladas ao ano”, lembrou Eduardo Salamuni, ressaltando a grande informalidade existente no setor.
As indústrias de cal e calcário da RMC estão organizadas em forma de Arranjo Produtivo Local (APL) desde outubro de 2004. O APL é caracterizado pela concentração de empresas de um mesmo segmento ou de atividades complementares que mantêm algum tipo de cooperação. “Atuando de forma cooperada, as empresas podem ganhar escala, reduzir custos, compartilhar processos tecnológicos inovadores e formalizar consórcios para diversas finalidades”, destaca Gina Paladino, assessora do Sistema Fiep.
Atualmente, o APL de cal e calcário é composto por 90 indústrias, sendo que 30 participam ativamente. Elas geram mais de 5.500 empregos diretos e produzem anualmente 2 milhões de toneladas de cal e 6 milhões de toneladas de calcário agrícola.
Em junho de 2005, o arranjo recebeu R$ 500 mil do Ministério da Ciência e Tecnologia para a execução de projetos estruturais do APL, como o estudo do mercado, criação do centro de informações do cal e calcário, análise de matrizes energéticas (hoje toda a única fonte utilizada é a madeira), levantamento, por meio de mapas, das empresas de cal e calcário na RMC e também em todo o Estado e formatação de cursos e capacitação técnica dos empresários e técnicos.
Segundo dados do Departamento Nacional de Produção Mineral, entre 2003 e 2004, a produção mineral do Paraná cresceu de 20,51 para 21,79 milhões de toneladas, volume inferior apenas aos registrados em 1998 e 2002. Em 2004, o total da produção comercializada no Paraná foi de mais de R$ 439 milhões.
Estudantes e empresários identificam problemas e buscam soluções
Desde o início de outubro, quatro empresas de cal e calcário de Colombo contam com o apoio de estudantes universitários que estão dentro das indústrias estudando problemas identificados em conjunto com os empresários e buscando o encaminhamento de soluções nos próximos seis meses. O reforço faz parte do projeto Bolsa de Iniciação Tecnológica (Bitec), do Sistema Fiep, por meio do Instituto Euvaldo Lodi (IEL). A proposta é transferir conhecimentos das instituições de ensino superior para dentro das indústrias, promovendo o desenvolvimento tecnológico e aumento da produtividade.
Estudantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Tuiuti do Paraná e Faculdades Integradas Espírita estão desenvolvendo trabalhos sobre preservação ambiental e gestão organizacional nas empresas selecionadas, como Juliana Maria Maçam, estudante de Engenharia Ambiental da Tuiuti.
Ela realiza um levantamento da situação atual de cada empresa do APL de Cal e Calcário em relação a legislações da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). “O principal objetivo é analisar o impacto ambiental das empresas de cal e calcário na região. Para isso, será feito um levantamento legislativo e normativo de toda a regulamentação ambiental”, comenta.
Fonte: Revista Meio Filtrante On-Line