A produção de minério de tungstênio na região do Seridó (semi-árido nordestino, entre os estados do Rio Grande do Norte e Paraíba), data da Segunda Guerra mundial, quando interesses americanos no esforço de guerra levaram à extração da scheelita: minério utilizado na indústria bélica. Com o fim do conflito mundial e as alterações no mercado que provocaram a redução de preço da scheelita, a região viveu um longo ostracismo e conseqüente fechamento de diversas lavras. Mas os pequenos mineradores, que formam a grande maioria dos trabalhadores na região, não se deram por vencidos. Trocaram a extração da scheelita pela exploração do pegmatito: rocha ígnea que contém diversos minerais como: quartzo, feldspatos e micas, terras raras e gemas como: água-marinha, turmalina, topázio, fluorita e apatita; e assim abriram, enormemente, o leque de possibilidades de extração e formação de cadeias produtivas, já que os minerais extraídos da rocha pegmatito podem ser utilizadas por indústrias como as de: papel e celulose, borracha, eletro-eletrônicos, isolantes elétricos, cerâmicas, e gemas e jóias.
Foi exatamente essa gama de possibilidades na utilização da rocha que destacou a região do Seridó na produção mineral do país, chamando a atenção do governo para o fomento de um Arranjo Produtivo Local (APL). O APL Pegmatito do Rio Grande Norte e Paraíba se destaca como sendo o único que engloba atividades em dois estados diferentes, reunindo 28 municípios do Rio Grande do Norte e 26 da Paraíba, numa área estimada de 20 mil quilômetros quadrados. “Acreditamos haver cerca de cinco mil pessoas na região diretamente envolvidas com a extração mineral”, revela o engenheiro de minas e coordenador do APL, Marcelo Soares Bezerra. Elas estão distribuídas em centenas de minas e jazidas produtivas, formadas basicamente por pequenos núcleos familiares de 3 a 4 pessoas. Esse cunho familiar e informal mostrou ser um dos principais desafios para o fomento da rede já que a noção de cooperação não era interiorizada na população local. “Acredito que essa tenha sido a maior dificuldade enfrentada por nós: a falta de noção de cooperação entre as famílias e os núcleos de garimpeiros”, lembra Marcelo Bezerra.
A opinião é compartilhada pelo presidente da Cooperativa dos Mineradores Potiguares (Unimina), Raimundo Bezerra Guimarães – o “machado”-. Para “Machado”, a falta de cultura cooperativa junto com a desconfiança dos produtores, motivado por projetos mal sucedidos no passado, complicaram ainda mais o trabalho no APL. Mas, o presidente da Unimina comemora o esforço realizado na região com a adesão de 54 garimpeiros –já associados- e de 240 em processo final de adesão. A formalização é uma exigência legal para o apoio do APL, já que congrega obrigações como as ambientais e de saúde e segurança – estabelecidas em Lei – com facilidades como o acesso mais fácil a treinamentos, novas tecnologias e especialmente a financiamentos e novas oportunidades de negócios.
Um exemplo dessas facilidades está em pleno curso na Unimina. A cooperativa, que trabalha com a extração do mineral “mica” (muscovita branco – utilizado nas indústrias de revestimento para altas temperaturas como excelente isolante térmico), acaba de assinar um acordo com a multinacional suíça, Von Roll. A empresa já está em preparativos para instalar uma moderna unidade de beneficiamento no município de Currais Novos (RN). Ela fechou parceria num contrato de vendas, onde se compromete a comprar toda produção da Unimina. O acordo elevou os ganhos dos produtores em mais de 300%. A tonelada do mineral que é vendida a R$350 a tonelada saltará para mais de R$1000, após a instalação da fábrica. “Agente tinha que enviar o mineral bruto para a fábrica da Von Roll em Fortaleza, agora podemos beneficiar o produto aqui mesmo, gerando mais emprego e renda na região”, conta “Machado”.
O presidente da Cooperativa afirma ainda que novos estudos para o aproveitamento de outros minerais presentes no pegmatito estão em curso o que pode trazer mais desenvolvimento, empregos e renda para o Seridó nordestino.
por: Claudio Almeida
Jornalista da RedeAPLmineral
Fonte: RedeAPLmineral