Garimpeiros de Cristalina se arriscam em terras ilegais

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 Fundada no século 17 por bandeirantes que procuravam ouro, Cristalina já foi uma das maiores reservas de cristal em rocha do mundo. Também foi uma das maiores fornecedoras para a indústria norte-americana durante a Segunda Guerra Mundial. Ganhou fama pela qualidade de suas pedras preciosas e semipreciosas.

Hoje a realidade é outra. O município é conhecido pela grande produção agrícola de milho e soja, além da suinocultura e bovinocultura de alto nível tecnológico. Mantém ainda a comercialização de jóias, mas a extração de cristal ficou em segundo plano.

Aos garimpeiros não restou muito. “Os garimpeiros de Cristalinas estão esquecidos, estamos abandonados”, diz Juarez Cunha, de 49 anos.

Descobrir novas grotas é um desafio para quem vive da exploração de pedras. A região que desperta interesse há tanto tempo tem vários pontos de extração de cristal, mas todos estão em áreas particulares. Sem licença, os mais de 350 garimpeiros de Cristalina enfrentam riscos ao invadir fazendas atrás da riqueza escondida na terra.

“O garimpo de cristal ficou perseguido, os fazendeiros não deixam e o garimpeiro tem que arriscar muito. Muitas vezes ele não chega atacando, ele chega e manda a pessoa se retirar. Aí, se a pessoa não retirar, eles chama os homems, os policiais”, conta o garimpeiro Delmiro Lopes. 

Para o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Juarez de Souza, a disputa não existe.”Eu não tenho conhecimento de conflitos com fazendeiros. Existe, inclusive, uma área sendo negociada para o grupo de cooperativados. Esse processo, inclusive, está em fase de finalização. É uma questão de regularização, de legalização de alguns dados e documentos”, afirma.

Enquanto o impasse permanece, os garimpeiros continuam sem um lugar para trabalhar. Precisam percorrem grandes distâncias em busca do melhor cristal.

A jornada de seu Pedro de Oliveira começou cedo, aos sete anos. E ele não desiste, ainda está a procura de uma pedra em especial. “Mexo com pedra de agulha, que vendo na faixa de R$ 60, R$ 70, às vezes, até R$ 100 real o quilo. Quando você pega uma moitinha dá para tirar até R$ 600”, calcula o garimpeiro.

Extrair cristal não é fácil. “São seis horas, oito horas de trabalho. E tem garimpeiro que sai cedo e vai embora só à noite porque tem que sustentar a família toda”, diz seu Juarez. Achar uma pedra boa é como acertar na loteria. Então, o jeito é extrair muitas para obter alguns trocados. “Vendo na rua. As pequenas saem por R$ 2 o quilo. As maiores custam R$ 8 a R$ 10 o quilo. Com isso, crio seis filhos”, acrescenta o garimpeiro.

E não basta só extrair as pedras. Antes de chegar às ruas, o processo é longo. “Quando chega em casa, tem que tirar a sujeira. Ela tem que ficar limpa, limpa. Se tiver areia no meio, não vende”, indica o trabalhador.

Dos garimpos para as lapidações artesanais. Esse é o caminho do cristal bruto, que é transformado com cuidado. Um serviço artesanal e de muita dedicação. “Depois de duas horas de trabalho, finalizamos a peça. Trabalhamos ela por quilo, que custa cerca de R$ 100 ou R$ 80. Varia de acordo com a qualidade e o mercado para onde ela vai”, explica o artesão Lucélio Braz Queirós.

Jóias de alto valor e beleza. Assim são conhecidas as pedras de Cristalina. E a variedade surpreende pelo tamanho, forma e cor. Um lapidário que não quer ser identificado só trabalha com pedras de primeiríssima qualidade. As mais valiosas e preciosas podem custar de R$ 5 mil a R$ 10 mil. Algumas são de valor inestimável.

E o que faz com que as pessoas procurem as pedras de Cristalina? “A beleza. O cristal de Cristalina é uma das pedras mais puras do mundo. Todo mundo gostaria de ter uma”, aponta o lapidário.

Acesse o vídeo da reportagem aqui.

Fonte: http://dftv.globo.com/Jornalismo

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