Entrevista: Flávio Erthal

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Presente às negociações iniciais dos trabalhos de articulação do que viria a ser a pedra bruta da RedeAPLmineral, o geólogo e Presidente do Departamento de Recursos Minerais- RJ, Flávio Erthal, conversa sobre o trabalho dessa instituição no fomento a sinergia de APLs de base mineral no estado do RJ.  

RedeAPLmineral: Conta um pouco da tua experiência trabalhando com arranjos produtivos de base mineral?

Flávio Erthal: 
Bem, posso falar um pouco da experiência nossa do DRM com o trabalho no estado do Rio de Janeiro, que já vem de mais de 10 anos. A situação que encontramos nessa região, ainda nos meados da década passada, era de muita informalidade. Havia uma ausência do Estado. As pessoas que trabalhavam na extração e beneficiamento da rocha ornamental estavam completamente desassistidas, produzindo de forma artesanal e absolutamente informal, sem licenciamentos ambientais ou minerais, com problemas trabalhistas etc. Então na década de 90 começaram os esforços de vários agentes governamentais e da iniciativa privada para trabalharmos conjuntamente na promoção da inclusão social e econômica das pessoas que trabalham lá. 

RedeAPLmineral: Esses esforços também ajudaram a formar a Rede Cooperativa de Pesquisa em Minerais da Construção Civil (RETECMIN-RJ)?

Flávio Erthal: 
Sim. Foi nessa época que representantes do CETEM, DRM-RJ, INT, Departamento de Geologia da UFRJ e a Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro, com o apoio do SEBRAE, a Prefeitura Municipal de Santo Antônio de Pádua e mineradores articularam-se para criar um ambiente de sinergia e troca de informação no setor da pequena mineração, trabalhando com o segmento de rochas ornamentais no noroeste do estado. 

RedeAPLmineral: Como surgiu essa demanda de criação de uma rede?

Flávio Erthal: 
Eu diria que começamos a trabalhar em meados da década de 1990. Em 96 houve uma primeira onda de ações de coerção da atividade informal, com a participação do Ministério Público e agências ambientais. O intuito foi de coibir toda a atividade ilegal. Na época várias empresas fecharam. Então eu diria que a demanda foi bem real. 

RedeAPLmineral: Qual foi a abordagem utilizada para enfrentar o problema?

Flávio Erthal: 
Primeiro os agentes locais tinham que tomar consciência de que ou eles se adequavam as exigências legais e se organizavam para trabalharem juntos ou eles teriam que sair do ramo. Então nossa primeira ação foi de conscientização dos empresários, trabalhadores e a sociedade da necessidade de se fazer um trabalho em conjunto. Houve uma campanha, uma chamada para a legalidade com os atores locais, e com o apoio do  Sebrae como grande catalizador de informações e ações de gestão e governança, conseguimos a capilaridade e o ‘expertise’ necessário para conseguirmos acesso e a confiança das pessoas. Além disso, houve a contrapartida da associação dos empresários locais. Eles tiveram muita iniciativa na estruturação do setor, otimizando processos de produção e também se organizando para melhor reivindicar seus pleitos.  

RedeAPLmineral: Quais foram os resultados dessas ações?

Flávio Erthal:
 Com a organização dos empresários e o apoio técnico das instituições nas áreas tecnológico, ambiental e de gestão, foram adquiridas novas maquinas, foi introduzido no processo produtivo o uso do circuito fechado, que minimiza tremendamente o impacto ambiental; conseguimos há pouco meses inaugurar uma fabrica de argamassa que utiliza o resíduo da serragem dos blocos que era despejado diretamente nos rios. Essa argamassa é chamada pelos produtores locais de argamassa verde. Hoje as empresas recebem royalties dessa argamassa. O trabalho também ajudou no desenvolvimento de novos produtos e design. Os empresários se juntaram para formar pólos de produção, corte, vendas, e assim reduzir custos. Outro exemplo é um pólo de serralharias, cerca de 15 no total. Os terrenos e as máquinas foram comprados em conjunto, reduzindo preços e aumentando eficiência.  

RedeAPLmineral: O processo funcionou bem no noroeste do RJ?

Flávio Erthal: 
Na região de Pádua parece que a sinergia foi muito grande. Todos se empenharam muito e os resultados começam a aparecer.  A atuação estadual na região também é muito forte. A organização dos sindicatos foi determinante. Nada substitui a organização local e a conscientização. As agências de fomento e financiamento também tiveram papel fundamental. 

RedeAPLmineral: Como levar essas informações adiante?

Flávio Erthal:
 Acredito que eventos como o que ocorreu há pouco em Recife – o V Seminário Nacional de APLs de Base mineral- são ótimas ocasiões para que todos que trabalham com o tema tenham a oportunidade de ver os trabalhos de seus pares e de aprender bastante com os casos apresentados. Em Recife, pudemos ver APLs em diferentes estágios de maturação e organização, seus problemas e as soluções encontradas para contorná-los. 

RedeAPLmineral: O VI Seminário Nacional de APLs de Base Mineral será na sua cidade. O que você pode adiantar da organização do evento?

Flávio Erthal: 
Ainda estamos em fase de discussão sobre a organização e a colocação do tema principal etc, mas acredito que um grande tema a ser discutido deva ser o de fontes energéticos. Outra questão é a do arcabouço legal, os códigos e as leis que regulam o setor. Mas como disse, isto ainda vai ser discutido e debatido entre os participantes. O que posso adiantar é que há interesse em chamar representantes de outros APLs, além dos de base mineral, para que possam ver o modelo da RedeAPLmineral. È muito importante replicar informações, modelos e estruturas em outros setores produtivos. Acredito que será uma inovação interessante para o IV Seminário Nacional de APLs de Base Mineral.

Fonte: RedeAPLmineral

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